O prestigioso matutino paulista “O Estado de S. Paulo” publicou em 4 de maio passado notícia sobre “a teoria da evolução no banco dos réus”, a cujo respeito um amigo da SCB manifestou-se da forma transcrita abaixo, que reproduzimos para nossos leitores por ser bastante ilustrativa da maneira pela qual as agências de notícias costumam tratar a controvérsia Criação/Evolução. Segue a notícia (em preto), com destaque (em vermelho) aos trechos que foram objetos de comentário (em azul).

EUA, SÉCULO XXI: TEORIA DA EVOLUÇÃO NO BANCO DOS RÉUS (Reuters) (O Estado de SP, 04/05/05)

A partir desta quinta-feira, o Estado de Kansas, EUA, realiza audiência pública de seis dias, nos mesmos moldes de um julgamento, para discutir se o ensino da teoria da evolução será mantido nas suas escolas.
O que vai ser discutido são mudanças nos atuais parâmetros. Ao contrário do contorcionismo hermenêutico da agência Reuters – ‘se o ensino da teoria da evolução será mantido’, os proponentes solicitam que a teoria da evolução seja objetivamente ensinada:

Ampliar as informações sobre a Teoria da Evolução

Esclarecimento: Os proponentes declaram que suas alterações relativas à seção sobre evolução intendem informar mais adequadamente os estudantes sobre a Teoria da Evolução e as hipóteses sobre as quais ela é pregada. A lista anexa esclarece algumas informações adicionais que os estudantes compreenderiam.

Mais de 20 pessoas devem testemunhar. 

Os relatos serão analisados pelo comitê de ensino estadual. Grupos de cientistas americanos afirmam que o debate é apenas uma maneira de oficializar o ensino do criacionismo – vertente com base religiosa que nega a evolução dos seres vivos – e prometem boicotar a audiência.
O ‘ensino do criacionismo’ não está sendo solicitado para ser oficializado. O que está sendo pedido é mais ciência que ciência! Os grupos de cientistas americanos vão boicotar a audiência porque já evitaram, estrategicamente, serem questionados no Scopes I. Razão? Eles só poderiam defender a teoria especial da evolução (microevoluções) que lida com os genes estruturais (a maioria das pesquisas evolutivas estão aqui), mas não poderiam defender publicamente a teoria geral da evolução (macroevoluções) que lida com os genes de desenvolvimento — como é que ocorre a mudança morfológica das espécies?  
‘Sinto que estou preso no tempo’, diz o advogado Pedro Irigonegaray, que vai defender a teoria da evolução. ‘Debater a evolução é  como debater se a Terra é redonda. É uma questão absurda.’
A expressão ‘sinto que estou preso no tempo’ é um ataque ‘ad hominem’ para denegrir os proponentes das mudanças como pessoas da Idade Média. Trazer a analogia de ‘debater a evolução é  como debater se a Terra é redonda’ demanda examinar a lógica ultradarwinista cum granum salis: que a Terra é redonda é um ‘fato científico’ devidamente comprovado, já as ‘especulações’ de Darwin… Sinto pena desse advogado, mas como ele ‘canta’ no coro darwinista questionar o ‘fato’ da evolução sempre será ‘uma questão absurda’. O que estão tentando é blindar mais uma vez a Teoria da Evolução das insuficiências epistêmicas.

Para nossos leitores terem idéia do que verdadeiramente está ocorrendo no Estado de Kansas, apresentamos a seguir a tradução do resumo das propostas feitas por membros do Comitê de Redação a serem examinadas pelo Conselho Estadual de Educação local.

 

RESUMO DAS PROPOSTAS CHAVE PARA A ALTERAÇÃO DE PADRÕES APRESENTADA POR OITO MEMBROS DO COMITÊ DE REDAÇÃO DE CIÊNCIAS. 

1. Alterar a missão da educação em ciências, acrescentando o termo “informadas”:
“A educação em ciências no Estado de Kansas contribui para preparar todos os estudantes para o aprendizado no decorrer de toda sua vida, e para que possam utilizar a ciência para a tomada de decisões informadas e racionais que contribuam para a comunidade local, estadual, nacional e internacional”.
Esclarecimento: Os proponentes declaram que esta alteração reflete sua preocupação principal. Uma decisão “racional” pode vir a ser uma má decisão se não for adequadamente “informada”. Isso é importante porque esclarecimentos científicos causam impacto significativo em muitas decisões importantes, aí incluídas as relativas a religião, estado e ética.

2. Ampliar as informações sobre a Teoria da Evolução
Esclarecimento: Os proponentes declaram que suas alterações relativas à seção sobre evolução intendem informar mais adequadamente os estudantes sobre a Teoria da Evolução e as hipóteses sobre as quais ela é pregada. A lista anexa esclarece algumas informações adicionais que os estudantes compreenderiam.

3. Alterar a definição de ciência
Definição atual: “Ciência é a atividade humana de procurar esclarecimentos naturais para o que observamos no mundo ao nosso redor”.
Alteração proposta: “Ciência é um método sistemático de investigação continuada, que utiliza a observação, o teste de hipóteses, medida, experimentação, argumento lógico e construção teórica para levar a esclarecimentos mais adequados dos fenômenos naturais”.
Esclarecimento: Os proponentes argumentam que a definição atual limita a investigação científica ao promover uma filosofia naturalista (ou materialista), pois ele só permite explicações “naturais”. O naturalismo permite somente causas naturais ou materiais para explicar a natureza e a origem dos fenômenos naturais. Os proponentes vêem nisso um obstáculo á ciência, em face dos muitos aspectos não-materiais do mundo natural, como por exemplo a “informação” biológica e a consciência. Essa definição, quando aplicada à história da vida, elimina a possibilidade de que alguma forma de inteligência possa ter desempenhado algum papel, encastela a evolução naturalista como um dogma, e não permite aos estudantes “seguirem as evidências para onde quer que elas levem”. Os proponentes argumentam que a definição proposta, recentemente adotada no estado de Ohio, dá abertura para a investigação científica, e é neutra religiosamente.

4. Esclarecer que a evolução é uma teoria, e não um fato estabelecido:
Esclarecimento: Os proponentes crêem que esta alteração é importante porque muitas questões fundamentais relacionadas com a adequação dos mecanismos evolutivos permanecem sem resposta, e porque a evolução é uma ciência histórica, subjetiva, que oferece uma resposta à questão fundamental para a religião teísta ou não: “De onde viemos?”

5. Exigir que os estudantes compreendam como diferem entre si as ciências históricas e experimentais.
Esclarecimento: Os proponentes acreditam que os estudantes deveriam compreender:
1. Como geólogos, antropólogos, biólogos evolucionistas, e outros cientistas históricos testam suas hipóteses, e
2. Que as explicações para eventos não observados que ocorreram no passado longínquo são necessariamente mais tentativas do que explicações para fenômenos que podem ser observados e testados em tempo real sob condições controladas.

SCB (12/06/2005)   [24]

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