LIÇÕES DA RADIESTESIA

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A Radiestesia ou Rabdomancia é uma prática milenar que tem sido usada presumivelmente para a detecção de lençóis d’água subterrânea, utilizando as chamadas “varinhas mágicas”. Sua utilização é feita por pessoas “sensitivas”, os rabdomantes ou hidróscopos, e a sua eficácia tem sido discutida no decorrer dos tempos.

Evidentemente, em nossos dias – em que a ciência tem-se multiplicado – existem condições para a aplicação do método científico, acompanhado de experimentos envolvendo tecnologias avançadas, para pelo menos comprovar ou não a sua eficácia, se não descobrir também os seus eventuais fundamentos científicos.

Entretanto, como exposto no artigo abaixo, de autoria de Johan B. Kloosteman, transcrito da revista “Catastrophist Geology” nº 2-2, de dezembro de 1977, é este um caso a mais em que idéias pré-concebidas impedem uma análise verdadeiramente científica dos fatos. Sem querer defender a Radiestesia, pois nossa posição sobre a sua eficácia é neutra (embora tenhamos pessoalmente uma interessante experiência positiva a seu respeito, em ocasião em que profissionalmente nos dedicávamos ao fascinante campo da Hidrogeologia), gostaríamos de partilhar da opinião implícita do articulista quanto aos preconceitos que freqüentemente impedem o avanço da ciência, como é o caso por exemplo da posição oficial atual do “establishment” científico com relação ao Catastrofismo ou ao Criacionismo.

Desejamos ressaltar que a revista “Catastrophist Geology” era publicada em Inglês no Rio de Janeiro, tendo circulação em escala mundial nos meios científicos mais abertos aos estudos que aparentemente contrariam os paradigmas convencionalmente aceitos.

O “United States Geological Survey”
contra a não-convencionalidade

Alguns eventos casuais são menos condenáveis que outros, e alguns chegam tão perto da aceitação que até transpassam a fronteira entre a não-convencionalidade e a convencionalidade, ou para permanecer ou para voltar atrás, às vezes repetidamente. Alguns desses persistentes eventos não usuais permanecem condenados somente durante poucas décadas, enquanto outros permanecem no “Index” do sacerdócio científico durante séculos.

Do ponto de vista universitário ortodoxo, somente as condenações do passado têm importância. O caso dos meteoritos, por exemplo é citado freqüentemente. Sua existência era conhecida há milênios (na Antigüidade Mediterrânea o ferro era conhecido como “metal de origem celeste” – comparem-se os vocábulos siderurgia e sideral), porém no final do século XVIII foram repentinamente execrados, para depois serem novamente aceitos como de origem celeste. Entretanto, a seqüência de constante oscilação de rejeição e aceitação entre a convencionalidade e a não-convencionalidade usualmente é mantida fora dos registros científicos. Tenho dúvidas de que algum historiador da ciência estude as vicissitudes dos eventos ou o âmbito do conhecimento que são censurados nos periódicos científicos do “establishment”.

Thomas Kuhn (1962) opunha-se ao ponto de vista de um progresso contínuo da ciência convencional, advogando um ponto de vista até certo ponto catastrofista de progresso descontínuo aos saltos. Ele encara, entretanto as revoluções científicas como ocasionadas por contradições internas geradas pelo empreendimento científico, e não leva em conta a interação entre a convencionalidade e a não-convencionalidade. Ele discute somente alterações menores do “paradigma” – por exemplo a descoberta do oxigênio – e não saltos maiores tais como a substituição da Alquimia pela Química, apesar de podermos legitimamente indagar se algo existe na nossa compreensão do mundo que pudesse tornar provável a descoberta do oxigênio e ao mesmo tempo tornar compreensível a Alquimia.

A história do “United States Geological Survey – USGS” (agência norte-americana semelhante, no Brasil, à Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais e ao Departamento Nacional de Produção Mineral) provê alguns exemplos interessantes da interação entre a convencionalidade e a não-convencionalidade.

No início do século XX, o USGS foi encarregado da responsabilidade de dar aconselhamento sobre recursos minerais, incluindo recursos hídricos. Um grande número de questões sobre radioestesia lhe foi encaminhado, e iniciou-se então um projeto visando proporcionar uma posição oficial sobre o assunto. Foi publicado em 1917 um artigo (Ellis, 1917) descrevendo a radioestesia e sua história (“uma curiosa superstição”) e apresentando uma lista de 500 referências (“um enorme volume de literatura estranha”). Muitos fatos curiosos foram relatados, alguns dos quais bastante curiosos. Por exemplo, as regras às vezes prescritas para o corte das varinhas “relacionavam-se muito amplamente com a magia e a astrologia pagã”; em 1659 a varinha de adivinhação foi denunciada por um sacerdote jesuíta como instrumento diabólico, e em 1701 foi expedido um decreto contra elas pela Santa Inquisição. E assim, quando a conclusão do artigo foi de que a “bruxaria hidrológica” é inútil, e que “experimentos ulteriores pelo USGS constituiriam …mal uso de fundos públicos”, os representantes da ciência convencional mais uma vez se puseram como sucessores diretos das igrejas convencionais na repressão da tradição e do conhecimento antigo.

Em resumo, o artigo do USGS baseava-se em opiniões pessoais, e nenhum experimento foi feito. Cinqüenta anos mais tarde, entretanto, (em 24/12/67), foi publicada uma notícia sobre radioestesia, dizendo que “Experimentos controlados, feitos por grande número de pesquisadores, mostraram de maneira conclusiva que a bruxaria hidrológica (radiestesia) não é um método confiável para a localização de água subterrânea”. Nenhuma evidência negativa foi apresentada desde 1917, e as evidências positivas foram ignoradas – como as pesquisas de Tromp (1949-1956), ou a ampla pesquisa desenvolvida nos países soviéticos. O USGS estava claramente “blefando” ao converter meras opiniões em “experimentos controlados”, e quando foi interpelado, teve de retratar-se.

William T Pecora, que tinha sido Diretor do USGS desde 1965, admitiu em 1969, em carta dirigida a R. C. Willey, Secretário da Sociedade Americana de Radioestesistas, que o USGS não possuía informações suficientes para se pronunciar negativamente sobre a eficácia da radiestesia. Pecora passou então a envinar todas as solicitações de informação sobre o assunto à Sociedade. (Ver Willey, 1970).

Luzes sísmicas – fenômenos luminosos visualizando pouco antes, durante e imediatamente após terremotos – foram relegadas ao limbo dos fatos condenados durante um bom tempo (talvez um século), mas hoje estão sendo admitidas, embora friamente, em outra notícia divulgada pelo USGS, dez anos após a “Bula da Bruxaria Geológica”.

Alguém do USGS “viu as luzes” e foi bem sucedido em pressionar a publicação de uma notícia a seu respeito, a qual foi publicada após terem sido adotadas as devidas precauções no palavreado. Afirmações positivas foram colocadas entre aspas (“a existência das luzes sísmicas é algo bem estabelecido, afirma John Derr”), e a observação final, de que uma teoria sobre as luzes sísmicas poderia possivelmente ser útil para a previsão de terremotos, foi feita como parecendo pedir desculpas pela publicação da notícia. Duvido também que alguém no USGS tivesse pensado nos últimos 50 anos de pesquisas feitas por leigos (Ver, por exemplo, Fort, 1941; Corliss, 1974; e outros artigos em meia dúzia de revistas leigas), ao escreverem que as luzes sísmicas merecem “investigação científica adicional (ênfase minha), disse John Derr”. Ou será que “investigação adicional é algum termo esotérico do USGS, à semelhança dos “estudos ulteriores” da radiestesia, com significado distinto para os não iniciados?

A crítica da terminologia, portanto, sem dar a ela o devido crédito, certamente seria um sinal de intolerância. Após a mencionada notícia divulgada naquele ano, os pesquisadores estarão aptos a referir-se a ela e talvez encontrarão menor resistência dos editores ao tentar publicar os seus resultados. Talvez até possam receber recursos para suas pesquisas. Pode-se até esperar que a comunidade científica seja capaz de aplicar seu potencial intelectual, facilidades de laboratório e rede de comunicação à investigação das luzes sísmicas. Algum tipo de passo positivo foi dado, sem dúvida, o que marca um tento a favor da não-convencionalidade e da ciência. Alegremo-nos com isso, e congratulemo-nos com o USGS pela sua coragem.

Para finalizar, uma previsão… Também no USGS cada vez um número maior de geólogos está entendendo que ignorantes e supersticiosos são os que aceitam “pela fé” as opiniões de outros, sem colocá-las à prova. Daqui a mais uns anos, será divulgada uma nova notícia declarando que a radioestesia merece investigações científicas adicionais, seguida por um novo artigo sobre recursos hídricos subterrâneos com extensa bibliografia cobrindo também o período desde 1917, e recomendando o uso de fundos públicos para pesquisas ulteriores.

(Leia toda a notícia na Revista Criacionista impressa)

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