A mente humana não é capaz de compreender o infinito. Quando pequeno, deitava-me na poltrona estofada da sala de visitas e punha-me a meditar profundamente sobre os conceitos de infinitude do tempo e do espaço. Depois de ter-me envolvido com considerável turbulência na discussão desses mesmos assuntos, pareço agora acordar de um pesadelo pronto para escrever algo a seu respeito. Os anos trouxeram-me maturidade, mas não estou mais perto de ser capaz de resolver esses problemas – o que faço pela fé, apesar de a astronomia e a matemática hoje tornarem mais compreensíveis alguns aspectos do tempo e do espaço – do que estava antes.

“Tudo que é humano tem um princípio. Somente Aquele que se assenta sobre o trono, o soberano Senhor do tempo, não tem princípio nem fim. As palavras introdutórias das Escrituras estabelecem assim um impressionante contraste entre tudo que é humano, temporal e finito, e aquilo que é divino, eterno e infinito. … Gênesis 1:1 afirma que Deus existe antes de todo o mais, e que Ele é único, e a única causa de todo o mais” (1).

O homem sempre demonstrou curiosidade sobre a origem da matéria e da vida. Os que não tiveram oportunidade de conhecer a Palavra de Deus, ou que rejeitam a sua inspiração, têm formulado várias teorias. Não é nosso propósito discutí-las, mas sim examinar cuidadosamente os primeiros poucos versículos das Escrituras.

Entendemos aqui a matéria como sendo a substância básica que constitui a estrutura dos materiais minerais e orgânicos que compõem a Terra. A descoberta da fissão nuclear, em anos recentes, focalizou as atenções sobre a energia e a matéria. O homem, até hoje, conseguiu realizar somente pequenos progressos no sentido de transformar energia em matéria. Entretanto, mais espetacular tem sido a sua capacidade de transformar em energia a massa associada à matéria, mediante a fusão e a fissão nucleares. As bombas atômicas lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki ceifaram mais de 200.000 vidas. Embora uma só pessoa pudesse facilmente ter transportado o material que produziu as explosões sobre o Japão, a quantidade de energia liberada por esse material foi tremendamente grande.

Obviamente seria necessário pelo menos igual quantidade de energia para criar a matéria que se transformou em energia naquelas explosões. Na realidade, seria necessária mais de 1000 vezes a quantidade de energia liberada, para produzir a matéria envolvida na fissão do Urânio, já que a fissão nuclear constitui tão somente uma reorganização da matéria que libera aproximadamente 0,09% da energia que estaria disponível se a matéria fosse completamente aniquilada. Se a criação de uma quantidade de matéria tão ínfima demanda tanta energia, quanta energia estaria envolvida na criação do mundo? Ela seria equivalente à energia liberada pelo nosso Sol no decorrer de 44 milhões de anos.

“Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir” (Salmo 33:9).

O que aconteceu no primeiro dia da semana da criação? Criou Deus, então, a matéria, juntamente com a luz, ou a matéria já existia? Ambos os pontos de vista reconhecem que Deus criou a substância que compõe nossa Terra, e que, ao fazê-lo, Ele não dependia de matéria pre-existente, de forma alguma. Da mesma maneira, ambos aceitam a integridade da semana da criação, consistindo de seis dias literais, e a santidade do sábado como o seu memorial. A única diferença entre os dois pontos de vista é se a matéria estava ou não presente no início do primeiro dia da semana. Esta divergência de opinião surge do fato de que as passagens bíblicas que tratam do assunto podem, com igual validade, ser compreendidas das duas maneiras.

A raiz do problema situa-se no significado da declaração introdutória das Escrituras Sagradas: “No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo” (Gênesis 1:1-2). Refere-se isso a um ato divino e à condição de nosso planeta anteriores ao primeiro dia da semana da criação? Ou a passagem especifica somente a primeira atividade criativa do primeiro dia da semana da criação? A frase “no princípio” significa os primeiros momentos da semana da criação, a própria semana da criação, ou um tempo anterior à semana da criação? A palavra criou envolve a produção de materiais que não tinham existência prévia, ou o seu rearranjo para formar uma habitação para o homem e para as miríades de formas de vida sobre o planeta? Céus significam o universo estrelado, ou o céu atmosférico sobre a superfície do planeta? E terra refere-se a nosso planeta como um todo, ou às características de sua superfície e dos seres vivos sobre ela?

Uma outra questão surge quanto a como deveríamos traduzir o original hebraico de Gênesis 1:1-3 – como na versão Almeida transcrita anteriormente, ou como rezam algumas outras traduções, como por exemplo a “Anchor Bible”: “Quando Deus se pôs a criar céu e terra – o mundo sendo então um êrmo sem forma, com trevas sobre os mares e somente um impressionante vento soprando sobre a água – disse Deus: ‘Haja luz’. E houve luz” (2). Ambas as traduções são interpretações válidas do texto hebraico original, a diferença entre elas sendo o resultado da introdução de diferentes vogais nas consoantes do hebraico original. (A forma escrita do hebraico – semelhante à de outras línguas antigas escritas – utilizava somente consoantes). Na realidade, não temos maneiras de saber hoje qual das duas traduções se aproxima mais do significado que Moisés pretendia dar. Poderíamos dizer que a tradução de Almeida tende a favorecer a idéia de que Deus criou a substância básica de nosso planeta no primeiro dia da semana da criação, e a “Anchor Bible” a idéia de que Ele procedeu dessa forma antes do primeiro dia. Entretanto, nenhuma das traduções necessariamente exclui o outro ponto de vista, e a escolha final entre as duas depende do sentido em que entendemos as palavras princípio, criou, céus, e terra(3).

A pergunta então é: O que quis o escritor inspirado nos transmitir? Na linguagem moderna, terra (4) denota nosso planeta como um todo, incluindo toda a matéria de que ele se compõe. Por outro lado, as Escrituras nos dizem que “à porção seca chamou Deus terra”, em contraposição ao “ajuntamento das águas”, que Ele chamou “mares” (Gênesis 1:10). Além do mais, Moisés nos informa que o dilúvio destruiu “a terra” (Gênesis 9:11), e outros autores inspirados declaram que no futuro Deus “criará novos céus e nova terra” (Isaias 6:17, cf. II S. Pedro 3:13, Apocalipse 21:1). Claramente os autores bíblicos parecem referir-se à “terra” como a terra seca sobre a qual andavam, e não todo o planeta propriamente dito.

Na Bíblia a palavra céu(s) denota de maneira variada a atmosfera, as estrelas visíveis a partir da Terra, e o paraíso de Deus. Mas em cada caso em que ocorre a dupla “céu(s) e terra” em um contexto em que o escritor torna claro o sentido no qual está usando os termos, ele significa os céus atmosféricos e a superfície da Terra, e não o universo astronômico e o nosso planeta Terra. Exemplos dignos de nota são Hebreus 1:10-11 e II S. Pedro 3:7 e 10, que declaram que os céus e a terra serão “abrasados” e “perecerão”. Tanto quanto saibamos, poucas pessoas, se é que existem algumas, admitiriam que a grande conflagração do último dia destruirá o planeta Terra e as estrelas.

Gênesis 1 emprega a palavra criar para os atos divinos pelos quais Deus produziu as criaturas marinhas (verso 21) (5) e o homem (verso 27). É evidente, entretanto, que no momento de sua criação Deus fez uso de matéria já existente (versos 20 e 21, e capítulo 2, verso 7). Na realidade, o mesmo é válido para todas as formas de vida vegetal e animal mencionadas no relato da criação, como a própria Bíblia claramente afirma. Obviamente, a palavra criou, como o próprio escritor inspirado a utiliza posteriormente nos dois capítulos iniciais de Gênesis, pode referir-se à organização de matéria pre-existente para produzir seres vivos, e não necessariamente só à origem da própria matéria.

É possível interpretar Gênesis 1:1 da seguinte maneira: “No princípio (do primeiro dia da semana da criação) Deus criou (trouxe à existência) o céu (o universo estelar) e a Terra (planeta)”. É também igualmente válido ler: “No princípio (semana da criação) Deus criou (deu forma a) o céu (atmosfera) e a (superfície da) terra”. A primeira versão falaria da criação do globo terrestre no primeiro dia da semana da criação, e a segunda referir-se-ia à série dos atos divinos registrados no restante do capítulo, sem nada dizer sobre o instante em que Deus trouxe à existência a substância básica da terra.

Examinemos, nesta altura, a declaração de Êxodo 20:11, de que “em seis dias fez o Senhor os céus e a terra … e tudo o que neles há”. Para a mente moderna à primeira vista isso pode parecer incluir o material inorgânico básico que compõe nosso planeta, bem como todos os seres vivos. Porém, novamente, como com relação a Gênesis 1:1-2, aplicam-se também aqui nossas observações anteriores a respeito das palavras céu(s) e terra. Em seu sentido original essa passagem de Êxodo poderia dizer: “Em seis dias fez o Senhor os céus (o firmamento, ou atmosfera, Gênesis 1:8) e a terra (a porção de terra seca da superfície terrestre, verso 10), o mar (ou a porção de água sobre a superfície terrestre, verso 10), e tudo o que neles há (todos os seres vivos nos céus, na terra e no mar)”. Da mesma forma como sua contra-parte em Gênesis 1, esta afirmação pode referir-se à organização da configuração da superfície da terra, incluindo a atmosfera e a hidrosfera, que estavam até então “sem forma”, e o preenchimento daquilo que estava “vazio” de vida, com seres vivos. Da mesma forma que Gênesis 1, Êxodo 20:11 deixa sem resposta a questão sobre quando Deus criou a substância básica da qual deu forma à configuração da superfície terrestre. A Bíblia não declara de maneira específica se isso aconteceu no primeiro ato criativo do primeiro dia da semana da criação, ou se aconteceu anteriormente.

Podemos, ainda, ler o primeiro versículo da Bíblia de outra forma. Um estilo comum na língua hebraica inicia a discussão de um assunto com uma declaração introdutória e termina com um sumário. Neste caso a introdução seria o versículo 1, e o sumário a primeira metade do versículo 4 do capítulo 2. O segundo versículo do primeiro capítulo descreveria então o que existia antes de Deus iniciar a Sua obra criadora, e o versículo 3 iniciaria a narração da semana da criação.

Poderíamos mencionar numerosos argumentos a favor de cada um dos dois lados da questão. Por exemplo, uma pessoa pode dizer que não é provável que Deus deixasse inacabada a obra da criação durante milhões de anos, enquanto que outra poderia apontar para Marte, cuja superfície ainda está aparentemente “sem forma e vazia”. Com relação a questões tais como a época em que Deus criou a substância básica de nossa Terra, nossa única posição segura é aceitar a Palavra de Deus naquilo que ela diz, nada mais e nada menos, e deixar a Bíblia ser a sua própria intérprete. Sobre pontos para os quais a Inspiração não proveu direção segura, é melhor suspender nosso juízo, e construir solidamente somente sobre o que Deus tenha revelado claramente. Deveríamos também ser tolerantes para com pontos de vista distintos a respeito de assuntos tais.

Sinto que muita tensão tenha se desenvolvido nos círculos criacionistas com relação à interpretação desses versículos. Evidentemente, mais de um ponto de vista é possível sem torcer as Escrituras. As considerações importantes não são sobre a presença ou a ausência de matéria no princípio da semana da criação, mas sim sobre a onipotência de Deus como Criador, Sua capacidade criativa (com ou sem matéria pre-existente), a literalidade da semana da criação, e o memorial comemorativo do sábado.

A existência de matéria inorgânica anteriormente à semana da criação pode permanecer uma questão em aberto, mas não deve existir dúvida com relação aos animais e plantas (matéria orgânica). A idéia de que seres vivos existiam na Terra antes da semana da criação é inteiramente incompatível com interpretação literal de Gênesis 1.

Alguns têm tentado conciliar a teoria da evolução com o relato bíblico da criação, atribuindo a cada dia da criação um longo período de tempo. Qualquer ponto de vista que aceite centenas de milhares ou milhões de anos para a existência da vida sobre a Terra levaria com toda a probabilidade, finalmente, ao conceito de que um dia significa uma era, ou seja um longo período de tempo. Não deixa de ser simples conjectura defender a integridade da semana da criação em face dos eons de tempo, mediante a afirmação de que a semana da criação teve a ver somente com o jardim do Éden, ou que a vida existia antes da semana da criação, mas que foi destruída antes desse evento. É perigoso construir teorias sobre o que pensamos ler nas entrelinhas dos versículos bíblicos. Os que defendem longas eras para a vida sobre a Terra devem explicar a seqüência dos fósseis na crosta terrestre – animais marinhos nos níveis mais baixos, plantas de terras baixas e répteis em seguida, e mamíferos, aves, e o ser humano em último lugar – ou como uma sucessão evolutiva, ou como uma série de atos criativos sucessivos de Deus, separados entre si por muito tempo. Os que aceitam a última possibilidade freqüentemente a equacionam logicamente com a seqüência da criação relatada no primeiro capítulo de Gênesis. Mas isso os traz de volta à idéia de que a narração bíblica refere-se aos dias da criação como prolongados períodos de tempo indefinidos. Parece ser praticamente impossível crer simultaneamente em grandes eras desde o início da semana da criação e nos dias literais da criação.

Podemos afirmar com certeza as verdades sobre a criação que Deus revelou claramente – que “Ele falou, e logo tudo se fez”, e que Ele modelou nossa Terra e a preencheu com seres vivos em uma semana literal.

O PRINCÍPIO

O povo aguardava, tenso, no desolado deserto. Uma descarga elétrica proveniente das pesadas nuvens negras que encobriam o anfratuoso monte havia-lhes atemorizado. O trovão que se ouviu ainda ecoava em sua mente. Sobreveio, entretanto, um estranho e não natural silêncio – a calmaria que antecede a tempestade, talvez? Enquanto tremiam em expectativa, até mesmo o seu líder – costumeiramente calmo e confiante – parecia visivelmente preocupado.

Subitamente, quebrando o silêncio, ouviu-se a voz da Onipotência. Recuando, a multidão caiu de joelhos. As palavras ribombavam pelos flancos da montanha e ao longo do vale, enquanto o grande Deus de Abraão, Isaque e Jacó pronunciava os dez preceitos do Decálogo, que seriam sua norma de vida.

Por muitos anos o povo hebreu havia estado imerso em uma sociedade idólatra. Eles haviam quase esquecido aquelas leis que constituem uma transcrição do caráter de Deus. Agora Deus trazia-lhes de novo o conhecimento de Si mesmo. O quarto mandamento, de maneira especial, iria lembrá-los de que Ele é um Deus superior a todos os outros, pois nenhum deus havia se manifestado como criador dos céus e da terra. Um dos seus descendentes declararia no futuro: “Só Tu és Senhor, Tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto há neles; e Tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus Te adora” (Neemias 9:6).

Dias Literais

Em semanas vividas há pouco tempo antes, uma série de acontecimentos havia vividamente relembrado os até então escravos, acerca do ciclo semanal. Em todos os sétimos dias não havia maná para colher, fato esse descoberto por algumas pessoas que não haviam crido no que ouviram. Ainda mais, o maná apodrecia e dava bichos se fosse guardado de um dia para outro – exceto do sexto para o sétimo dia. O dia de repouso, o sábado, encerrava regularmente cada ciclo semanal. Deus disse ao povo que em seis dias havia criado o mundo, e no sétimo havia repousado. A multidão reunida não tinha dúvidas de que Ele se referia a dias literais. Não havia como pensar de outra maneira.

Se cada dia da semana da criação não fosse um período de 24 horas, não teríamos como explicar de onde proveio o ciclo dos dias da semana. Independentemente do dia que observássemos – sexta-feira, sábado ou domingo – teríamos dificuldade para explicar a origem de qualquer dia de repouso, sem a sua vinculação ao ciclo semanal estabelecido na semana da criação.

Nas Escrituras, a palavra hebraica yom, traduzida “dia”, quase sempre significa um período literal de 24 horas, quando precedido por um numeral. Obviamente, no relato da criação existe sempre um numeral precedendo aquela palavra – primeiro, segundo, terceiro, etc., e essa regra para a tradução de yom como um dia literal aplica-se neste caso. Com base na correta exegese bíblica podemos portanto interpretar os dias da criação como dias literais.

Os escritores dos demais livros da Bíblia, após Moisés, certamente encaravam a primeira parte de Gênesis como divinamente inspirada e autorizada, e compreendiam ser literal a semana da criação. Davi refere-se repetidamente a Deus como Criador, e indica a natureza instantânea de Sua obra criadora (Salmo 33:6-9). O Salmo 104 segue a ordem dos dias da criação – observe-se especialmente os versos 2 e 3 (primeiro e segundo dias), 19 (quarto dia), e 25-30 (quinto e sexto dias). No Novo Testamento todos os evangelistas incluem referências à criação, ao dilúvio, e à história dos primórdios da terra. As próprias palavras de Jesus indicam a Sua aceitação da historicidade de Gênesis (Mateus 11:23-24; 19:4; 24:37-39; Marcos 10:6; 13:19; Lucas 11:51; 17:26-27).

Se Jesus tivesse afirmado positivamente no Novo Testamento que a criação teve lugar em seis dias literais, a maioria das pessoas ficaria impressionada com esse fato. Não obstante, Deus, na majestade de Sua glória, afirmou o fato, do alto do Monte Sinai, sendo ouvido por milhares de pessoas, e tendo registrado Sua declaração em tábuas de pedra e também nas Escrituras Sagradas. “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há” (Êxodo 20:11).

Como poderia Moisés, o autor de Gênesis, ter tornado mais claro que os dias da criação foram literais? Ele deu um número seqüencial para cada dia, falou a respeito de noite e dia, trevas e luz, encerrando o relato sobre cada dia com a expressão “tarde e manhã”. Qualquer pessoa que deseje crer em longos períodos de tempo para cada dia da criação deverá compreender que Moisés não estava tentando dar esse sentido ao seu relato.

Constituiriam os dois primeiros capítulos de Gênesis relatos distintos da criação feitos por diferentes autores não contemporâneos, como às vezes se alega? À primeira vista os dois capítulos podem parecer bastante distintos. Entretanto, têm eles em comum unidade temática, semelhança de forma e de características, e significativos usos dos nomes para a divindade (1). Traçar em linhas gerais a temática principal e em seguida voltar a preencher os detalhes, ainda hoje constitui um estilo literário comum. O relato básico encerra-se com a primeira metade do quarto verso do capítulo 2. A parte que diz respeito especificamente ao ser humano inicia-se com a segunda metade de Gênesis 2:4 e continua até o fim do capítulo 2.

O primeiro dia

Sempre, desde que o homem pela primeira vez elevou seus olhos para o céu noturno, tem ele se maravilhado com a sua beleza, e ponderado sobre o desconhecido. A astronomia moderna tem descoberto algo sobre a vastidão do universo, que jaz além da compreensão humana. As estrelas e galáxias não vieram à existência acidentalmente – elas são o objeto do poder criativo de Deus manifestado na transformação de energia em matéria. O primeiro capítulo do livro de Gênesis descreve os atos criativos que levaram ao estabelecimento de um desses corpos celestes como um lar para uma nova raça de seres feita à Sua imagem.

Do início ao fim, a primeira semana da história da Terra foi plena de sucessivos milagres. Deus não houve por bem dar-nos muitos detalhes sobre os Seus atos criativos. O registro é breve, porém simples e abrangente.

“No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (Gênesis 1:1-5).

Assim se inicia o relato da criação. Como executou Deus os Seus atos criadores? As Sagradas Escrituras dizem que Ele “pronunciou” a existência do mundo e suas formas vivas, de acordo com o plano que já existia em Sua mente. “Os céus por Sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de Sua boca, o exército deles. … Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir” (Salmo 33:6-9). “Também a Minha mão fundou a terra, e a Minha destra estendeu os céus; quando Eu os chamar, eles se apresentarão juntos” (Isaias 48:13). O apóstolo João declarou: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e, sem Ele, nada do que foi feito se fez” (João 1:3).

A frase “sem forma e vazia” descreve a condição da terra no instante em que os atos criativos começaram a ter lugar. Ela descreve o estado caótico que foi transformado, mediante sucessivos atos criativos durante a semana da criação, em um estado de ordem e beleza, à medida em que Deus modelava, dava forma, e organizava a superfície da terra tornando-a um local habitável para o ser humano.

A luz trazida à existência no primeiro dia da semana da criação evidentemente provinha de uma fonte definida, e a rotação da Terra resultou na sucessão de noite e dia, situação não diferente da de hoje. É razoável supor que Deus tenha criado nosso sistema solar – o Sol, os planetas e seus satélites – como uma unidade.

O segundo dia

“E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas. Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez. E chamou Deus ao firmamento Céus. Houve tarde e manhã, o segundo dia” (Gênesis 1:6-8).

Deus despendeu o segundo dia na organização da atmosfera. Talvez tenha Ele então elevado o vapor d’água que podia estar pairando sobre a superfície das águas, inserindo uma camada de ar entre essas águas que foram para cima, e as águas que permaneceram em baixo. A palavra hebraica traduzida como “firmamento” significa uma grande expansão – uma boa descrição da atmosfera. O relato do segundo dia, com a repetição do conceito da separação entre águas e águas, tem sugerido a muitos a possibilidade de ter ocorrido a formação de uma camada envoltória de vapor d’água na alta atmosfera. Independentemente de uma comprovação de tal interpretação, numerosas evidências circunstanciais tendem a apoiá-la. Em resumo são elas as seguintes:

1) A redação repetitiva de Gênesis 1:6-8 com relação à separação entre as águas, a menos que fosse um expediente meramente literário ou estilístico, parece enfatizar essa interpretação.

2) A blindagem efetuada por essa camada envoltória de vapor d’água poderia explicar uma possível diferença entre as relações Carbono-12/Carbono-14 existentes antes do dilúvio e atualmente.

3) Uma camada envoltória de vapor d’água poderia ter influído para um clima global mais ameno.

4) Camadas de ozônio e faixas quentes na estratosfera poderiam ter sido os reservatórios desse vapor d’água. O ozônio tem forte afinidade pela água, e temperaturas maiores permitiriam maior saturação.

Por outro lado, é possível que Moisés refira-se às nuvens ao mencionar as águas acima do firmamento. Falando dos céus de sua época (pós-diluviana), Davi usou a mesma expressão de Moisés (Salmo 148:4 – “… louvai-O as águas que estão acima do firmamento”), embora ninguém defenda que um invólucro de vapor d’água tenha existido após o dilúvio. Não devemos defender dogmaticamente a teoria da camada envoltória de vapor d’água. Pelo contrário, deveríamos pesar as restrições de ordem física e meteorológica que possam vir a limitar nossas opções com relação a quaisquer eventuais características fascinantes que a teoria possa apresentar (2). Por exemplo, a camada de vapor d’água poderia encobrir a luz das estrelas, e então como poderiam elas ter sido postas para “sinais”? (Gênesis 1:14). A condensação de um invólucro de vapor d’água não proporcionaria mais do que uma pequena fração da quantidade de água necessária para um grande dilúvio universal.

A cosmologia dos povos antigos descrevia um firmamento sólido que podia enrolar-se como um pergaminho, tendo luminárias nele pendentes. Eles se viam como que morando sob uma grande cobertura ou tenda, que tinha sólidos apoios. Janelas nessa cobertura abriam-se para deixar cair a chuva, conceito esse refletido nos textos seguintes: Gênesis 1:17 (luzeiros colocados no firmamento); Jeremias 10:12; 51:15 (os céus sendo estendidos); Salmo 104:2, Isaías 40:22 (os céus estendidos como uma cortina, como tenda para neles habitar); Jó 26:11 (as colunas do céu); Gênesis 7:11, II Reis 7:2 (as janelas do céu); Isaías 34:4, Apocalipse 6:14 (os céus se enrolando como pergaminho); Provérbios 8:28 (as nuvens sendo firmadas).

Certas passagens das Escrituras – Jeremias 10:12, Isaías 40:22, Jó 26:11, e outras – sugerem que os seus autores tinham conceitos cosmológicos semelhantes aos das antigas culturas pagãs. Certamente não queremos dizer que os escritores bíblicos entendiam a cosmologia como nós hoje (não querendo com isso, absolutamente, dizer que nossa compreensão atual seja perfeita). Entretanto, em numerosas ocasiões parece que Moisés, nos seus escritos de Gênesis, realmente estava tentando contrabalançar e remover a influência da cosmologia pagã. Por exemplo, ele nem mesmo se permite nomear o Sol e a Lua, tão somente chamando-os de luminar maior e luminar menor. Sol e Lua eram divindades egípcias que Moisés não desejava endossar nem dar ensejo para sua adoração. A primeira sentença de Gênesis, com suas quatro declarações fundamentais – quando, quem estava envolvido, o tipo de atividade, e o resultado – não encontra paralelo no mundo antigo. No relato bíblico da criação o homem é o centro e o clímax da atividade de Deus. Permanece esse relato em acentuado contraste com as mitologias pagãs antigas que descrevem a criação do homem como uma ilação tardia, ou como resultado de guerras entre os deuses. Os relatos pagãos da criação não mencionam a mulher, ou a encaram como de importância secundária. A narrativa de Gênesis da criação da mulher é mais notável quando a comparamos com as culturas e a sociedade nas quais seu autor viveu. Talvez interpretássemos melhor expressões como “janelas dos céus”, ou “colunas do céu”, à luz do seu contexto como linguagem figurada ou poética. Tal prática ainda hoje é freqüente. Falamos freqüentemente do nascer ou do pôr-do-sol, dos quatro cantos da Terra, etc., sem realmente acreditarmos literalmente nas palavras que usamos. Os escritores antigos usavam suas próprias palavras e eram influenciados pela sua herança cultural, entretanto não devemos esquecer que o Espírito Santo os inspirou, e que suas mensagens são verdadeiras, e não meramente idéias pagãs atualizadas ou reescritas.

Eclesiastes 1:6-7 reflete uma perspectiva do ciclo hidrológico na natureza, e do movimento das massas de ar, que é notavelmente moderna, e de maneira nenhuma em conformidade com a cosmologia dos dias de Salomão.

O terceiro dia

“Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez. À porção seca chamou Deus Terra, e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus que isso era bom. E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez. A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom. Houve tarde e manhã, o terceiro dia” (Gênesis 1:9-13).

O Salmo 104, versos 5 a 9, aduz um quadro posterior da criação que acrescenta detalhes ao breve relato de Gênesis. Os versos 7 e 8, particularmente, aplicam-se ao terceiro dia. “À Tua repreensão (as águas) fugiram, à voz do Teu trovão, bateram em retirada. Elevaram-se os montes, desceram os vales, até ao lugar que lhes havia preparado”. Aparentemente ocorreram grandes movimentos da crosta, que em algumas áreas rebaixaram o solo e em outras elevaram cadeias de montanhas e massas de terra. A água foi drenada para as áreas mais baixas, deixando seca a terra das áreas mais elevadas. A mesma descrição aplicar-se-ia também aos últimos estágios do dilúvio, apesar de neste caso a atividade aparentemente ter sido bem mais lenta do que na criação. A drenagem da terra, e o seu enxugamento, ocorreram durante parte de um dia, velocidade esta que ultrapassa enormemente o valor atual de ocorrências semelhantes.

Deus devotou a última parte do terceiro dia à criação das plantas. O relato de Gênesis torna claro que isso envolveu mais do que um mero brotar da vegetação. Deus deve ter criado plantas em todos os estágios de crescimento, incluindo a maturidade completa. Adão e Eva não tiveram de esperar até que as plantas crescessem, para encontrar alimento. Conquanto no Jardim do Éden se manifestasse uma beleza especial, o clima tropical, ou semitropical, manteve luxuriante vegetação em toda a terra.

Ao tentarmos compreender a obra de Deus na criação, repetidamente reconhecemos e confessamos nossa incompetência e ignorância. “Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos” (Isaías 55:9).

O CLÍMAX DA CRIAÇÃO

O quarto dia

Uma leitura descuidada de Gênesis 1:14-19 pode induzir uma pessoa a pensar que Deus repentinamente tenha transferido sua atividade criadora para outras partes do universo. Todos os outros atos da semana da criação, entretanto, tiveram lugar na terra, e estiveram relacionados diretamente com ela. O relato, entretanto, engloba mais do que pode parecer à primeira vista:

“Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos. E sejam para luzeiros no firmamento dos céus, para alumiar a terra. E assim se fez. Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite; e fez também as estrelas. E os colocou no firmamento dos céus para alumiarem a terra, para governarem o dia e a noite e fazerem separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom. Houve tarde e manhã, o quarto dia” (Gênesis 1:14-19).

Os corpos celestes sempre fascinaram o homem. Para quem crê no Deus da criação eles ilustram Sua grandeza e poder. Isaías bem expressou tal convicção: “Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o Seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais Ele chama pelo nome; por ser Ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar” (Isaías 40:26). Os antigos, que já se tinham apartado da crença em um Criador, também se sentiram impressionados com eles. Infelizmente, começaram a adorá-los (especialmente o Sol) em lugar de seu Criador. O nome comum para o primeiro dia da semana, em várias línguas, por exemplo, é um resquício dessa antiga prática.

Nos versos 5 a 8 Moisés identifica o que ele significa com a palavra firmamento. São os céus atmosféricos, a expansão existente imediatamente acima da superfície terrestre. O verso 17, que diz respeito ao quarto dia, conta como Deus colocou o Sol, a Lua e as estrelas no firmamento. Esses corpos, porém, não estão em órbita nos céus atmosféricos. Ter-se-ia enganado Moisés?

Uma interpretação razoável é que Moisés descreveu a criação como ele a viu. Se o seu ponto de vista fosse o de uma pessoa sobre a superfície da Terra, observando a atividade criadora de Deus, pareceria a ele como se Deus realmente colocasse os corpos celestes no firmamento no quarto dia, quando eles se tornaram visíveis como entidades distintas, pela primeira vez. Encontramos situação análoga em pelo menos mais um outro caso, também envolvendo Moisés. Êxodo 7:10-12 relata o episódio das varas que se tornaram serpentes. A história não distingue a serpente proveniente da vara de Aarão, das demais provenientes das varas dos magos. Todas são chamadas de serpentes. As serpentes provenientes das varas dos magos não eram seres vivos, pois o homem não tem o poder de criar vida. Isso é prerrogativa unicamente de Deus. A Bíblia usa de forma consistente a capacidade de criar e dar vida como sendo a característica que distingue o verdadeiro Deus de todos os outros seres. Na corte de Faraó aquelas varas aparentemente haviam-se transformado em serpentes, e Moisés registra a maneira pela qual aparentavam ser.

A leitura de Gênesis 1:14-19 dá nítida impressão de que Deus criou o Sol, a Lua, e as estrelas, no quarto dia. É difícil, entretanto, incluir aí as estrelas, pois isso implicaria pelo menos a formação do universo visível naquele instante. Este ponto de vista tão geocêntrico nos recorda a crença antigamente sustentada de que a Terra era o centro do universo. Os raios de luz das estrelas distantes não teriam ainda chegado até nós (com a atual velocidade da luz), a menos que Deus as tivesse formado bem antes da semana da criação.

Como a palavra “fez” – na declaração “E fez também as estrelas” (verso 16) – foram acrescentadas pelos tradutores, e não aparece no texto hebraico, a sentença pode constituir uma expressão intercalada sem a intenção de significar que Deus tencionou que as estrelas governassem a noite, como expresso no Salmo 136:9 (“… a Lua e as estrelas para presidirem a noite…”). Talvez também Moisés desejasse deixar claro que Deus criou as estrelas, sem necessariamente implicar que Ele o tivesse feito no quarto dia, apressando-se assim a acrescentar “as estrelas também”.

Alguns preferem pensar que Deus formou o Sol no primeiro dia, ou no instante em que Ele trouxe à existência a matéria que compõe nosso sistema solar. A partir do primeiro dia, parece que dia e noite não fugiram da configuração atual que exige uma fonte de luz constante e definitiva, e uma Terra em rotação.

Os acontecimentos dos dias anteriores haviam produzido movimentos dinâmicos da crosta terrestre, e estabelecido a mistura de gases para sustentar a vida no espaço imediatamente acima da superfície da Terra. Tais fatos naturalmente teriam produzido grandes quantidades de vapor d’água, de tal forma que talvez o Sol, a Lua, e as estrelas, não fossem visíveis como corpos distintos, a partir da superfície da Terra, até o quarto dia quando a neblina tivesse se dissipado.

Estudiosos da língua hebraica dividem-se quanto ao significado e à interpretação das palavras bârâ (“criou”) e ‘âsâh (fez). Alguns acham que elas têm significado semelhante e são intercambiáveis. Outros interpretam ‘âsâh de maneira mais ampla, para incluir significados tais como “libertar a restrição”, ou “desvendar”. Como Gênesis usa ‘âsâh para descrever atividades criadoras do quarto dia, deveríamos ser tolerantes para com as diversas opiniões sobre quando estabeleceu Deus o Sol, a Lua, e as estrelas. Certamente cada um tem a liberdade de manter a opinião a que chegou após seu reverente estudo pessoal do assunto.

O quinto dia

Nos quinto e sexto dias chegou à culminância a obra da criação de nosso mundo. Apesar da formação da matéria inorgânica, do estabelecimento de um mundo organizado a partir de um vazio sem forma, e da criação das plantas, tudo isso, tivesse manifestado o grande poder e intelecto de Deus, a formação de criaturas animadas ativas, com responsabilidades, foi o que proveu o espetacular clímax do processo criativo.

“Disse também Deus: Povoem-se as águas de enxames de seres viventes; e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus. Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom. E Deus os abençoou, dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves. Houve tarde e manhã, o quinto dia” (Gênesis 1:20-23).

As descrições feitas por Moisés das diferentes espécies de plantas e de animais marinhos e terrestres não tinham intenção de nos fornecer classificações científicas. A Bíblia foi escrita para os homens de todas as épocas, e poucos teriam formação científica como a de hoje. Tentar fazer com que essas listas simplificadas se tornem completas e sejam congruentes com o moderno sistema de classificação dos seres vivos, contraria a intenção e o propósito das Sagradas Escrituras. Deveríamos observar, entretanto, que as categorias de plantas e animais que Moisés menciona, na realidade cobrem adequadamente os reinos vegetal e animal de forma simples para a compreensão por parte de qualquer leitor, apesar de, em alguns casos, os tradutores aparentemente terem dado significados muito restritos a algumas palavras ou frases do relato original.

Por exemplo:

“A tradução baleias (que consta na tradução de Almeida revista e corrigida) é muito limitada em seu escopo. A palavra tem significados outros, como serpente (Êxodo 7:9, 10 e 12) e dragão (Isaías 51:9, Ezequiel 29:3, como consta na tradução de Almeida antiga), mas deve significar grandes animais marinhos nesta passagem (como consta na tradução de Almeida revista e atualizada) como também no Salmo 148:7 (onde consta como monstros marinhos).

“O verbo mover, râmâs em hebraico, é especialmente descritivo de animais que rastejam (Gênesis 9:2) seja sobre a terra (Gênesis 7:14), seja nas águas (Salmo 69:34), embora aqui em Gênesis 1:21 refira-se claramente às criaturas aquáticas” (1).

Da leitura da versão King James, em Inglês, poderia parecer que Deus houvesse criado das águas tanto as aves como as criaturas marinhas. A Versão Revista Padrão (Revised Standard Version), em Inglês, reflete mais corretamente o hebraico: “Povoem-se as águas de enxames de criaturas vivas, e voem as aves sobre a terra através do firmamento dos céus” (Gênesis 1:20) (2). Provavelmente não tem maior relevância o fato de terem as águas produzido as aves, ou de ter Deus escolhido alguma outra nova fonte de matéria. A Versão Revista Padrão, em Inglês, destrói o argumento usado por alguns críticos da Bíblia, de que Gênesis 1:20 e 2:19 se contradizem porque na versão King James a primeira passagem refere-se às águas produzindo as aves, e a segunda menciona “Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra … todas as aves do ar”. A palavra ave incluiria todos os pássaros e talvez outros seres alados.

Os tipos de animais criados no quinto dia eram extremamente diversificados, incluindo mamíferos, insetos, peixes, vermes, mariscos e pássaros. Uma simples olhadela na lista, juntamente com a verificação de que no dia seguinte também se deu a produção de vermes, mamíferos, insetos, etc., elimina toda e qualquer pretensa seqüência evolutiva. Deus formou tanto as formas de vida mais complexas como as mais simples, em ambos os dias, o quinto e o sexto.

Talvez Deus tivesse criado diferentes estágios nos ciclos de vida de alguns animais em dias distintos – por exemplo, girinos no quinto dia (como animais aquáticos) e rãs no sexto dia (como animais terrestres). O relato é sumário, e Ele achou desnecessário revelar muitos detalhes.

O sexto dia

“Disse também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie. E assim se fez. E fez Deus os animais selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom” (Gênesis 1:24-25).

O sexto dia completa o trabalho da criação dos animais. Novamente não podemos querer comparar as categorias empregadas por Moisés com qualquer classificação moderna. Na versão Almeida revista e corrigida tem-se “gado”, “répteis”, e “bestas feras”, correspondendo a “animais domésticos”, um conjunto misto de formas de vida mais simples, e “animais selváticos” (principalmente mamíferos). Essas categorias incluem praticamente todas as formas de vida terrestres.

Uma das notáveis características da narrativa referente aos terceiro, quinto e sexto dias da criação é o uso repetitivo da expressão “segundo a sua espécie”, ou “conforme a sua espécie”.

“E a terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie, e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom” (Gênesis 1:12).

“Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom” (Gênesis 1:21).

“E fez Deus os animais selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom” (Gênesis 1:25).

Seria significativa essa repetição, e teria a intenção de transmitir algum sentido especial? Os comentaristas têm interpretado essa frase pelo menos de duas maneiras:

1) Como uma ordem reguladora do futuro comportamento reprodutivo das plantas e dos animais;

2) Como uma maneira de dizer que Deus criou várias categorias de plantas, pássaros, criaturas aquáticas, etc., das quais aquelas que foram mencionadas deveriam ser representativas.

A expressão “conforme a sua espécie” aparece trinta vezes nos livros de Moisés, particularmente nos capítulos 6 e 7 de Gênesis, 11 de Levítico e 14 de Deuteronômio. Por exemplo:

“Das aves, estas abominareis; não se comerão, serão abominação: a águia, o quebrantosso e a águia marinha; o milhano e o falcão, segundo a sua espécie, todo corvo, segundo a sua espécie, o avestruz, a coruja, a gaivota e o gavião, segundo a sua espécie, o mocho, o corvo marinho, a ibis, a gralha, o pelicano, o abutre, a cegonha, a garça, segundo a sua espécie, a poupa e o morcego. Todo inseto que voa, que anda sobre quatro pés será para vós outros abominação. … Deles, comereis estes: a locusta, segundo a sua espécie, o gafanhoto devorador, segundo a sua espécie, e o gafanhoto, segundo a sua espécie”. (Levítico 11:13 a 20 e 22)

“De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo. Das aves, segundo as suas espécies, de todo réptil da terra segundo as suas espécies, dois de cada espécie virão a ti, para os conservares em vida”. (Gênesis 6:19-20)

Torna-se evidente que o autor nessas passagens não tem a intenção de referir-se ao comportamento reprodutivo, e que as palavras “segundo a sua espécie” são usadas simplesmente para indicar todos os animais da mesma categoria que os que foram nomeados. A frase “espécies de” poderia tornar mais preciso o significado – espécies de aves, espécies de gado,e espécies de répteis. Observe-se esta tradução: “… junto com todas as várias espécies de animais selváticos, todas as várias espécies de animais domésticos, todas as várias espécies de répteis que rastejam sobre a terra, e todas as várias espécies de aves, todas com penas e asas; de todas as criaturas em que havia fôlego de vida, Noé juntou um casal de cada, na arca” (3) (Gênesis 7:14-15).

Voltando a Gênesis 1, torna-se evidente que o mesmo sentido ali se aplica. Moisés aparentemente refere-se às espécies de animais e plantas que Deus criou no terceiro, quinto e sexto dias, e não ao seu comportamento reprodutivo.

Na época em que Darwin escreveu “A Origem das Espécies”, os religionistas defendiam fortemente a idéia da fixidez das espécies com base na frase “segundo sua espécie” repetida em Gênesis 1. Darwin, por exemplo, escreveu para um amigo que, quando começou a compreender que as espécies realmente mudam, foi como se estivesse confessando um homicídio (4). Compreendemos hoje que o conceito dos religionistas da época, sobre a fixidez das espécies, baseava-se em uma interpretação incorreta das Escrituras.

Como Gênesis 1 não declara que animais de diversas espécies não podem cruzar-se ou hibridizar-se, devemos manter nossos olhos e nossa mente abertos à possibilidade de que no mundo ante-diluviano pudessem ter ocorrido cruzamentos entre espécies distintas, em uma escala maior do que hoje. Negar enfaticamente que isso não poderia ter ocorrido no passado porque não ocorre hoje, é posicionar-se dogmaticamente dentro da estrutura uniformista.

O conhecimento da Bíblia tem-se aprofundado nos tempos atuais, o mesmo se dando com o conhecimento científico. Embora as verdades básicas permaneçam inalteradas, as igrejas deveriam reavaliar algumas de suas interpretações, de tempos em tempos. Não devemos criticar quem tenha errado no passado. Entretanto a lição fica para nós. Em todas as situações devemos estudar a Bíblia cuidadosamente para descobrir exatamente o que ela diz – e o que ela não diz. O mais diligente estudo, entretanto, não nos conduzirá à verdade, a menos que o Espírito Santo dirija nossa mente. As Escrituras prometem o Espírito Santo para aqueles que O procuram com contrição.

Na criação do homem, Deus trouxe à existência uma criatura dotada dos atributos divinos de raciocínio, julgamento e consciência, que o distinguem dos animais.

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra” (Gênesis 1:26-28).

O homem veio à existência como filho de Deus, produto de Seu planejamento e execução. Era uma criatura feita especialmente para habitar uma bela e perfeita terra. As claras palavras de Gênesis conflitam com a teoria que hoje prevalece sobre a origem evolutiva do homem, e jamais poderemos conciliar essas duas posições antagônicas.

O relato de Gênesis implica que, ao Deus criar as variadas formas de vida vegetal e animal nos dias sucessivos da semana da criação, fez Ele uso de matéria que previamente Ele mesmo havia trazido à existência. A vegetação proveio da terra; os animais marinhos, das “águas”; as aves e os animais terrestres, da “terra” (Gênesis 1:11-12, 20-21, 24; 2:19). O fato de que “formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra” (Gênesis 2:7) da mesma maneira ou sugere o uso de matéria existente, ou define a espécie de matéria de que se compõe o corpo humano, ou ambas as coisas.

Criou Deus matéria sem recorrer a material previamente criado, desde a semana da criação? Jesus teria criado matéria ao alimentar 5000 pessoas com cinco pãezinhos e dois peixes? O que aconteceu ao ter Ele curado o homem com o braço ressequido? Teria Deus criado instantaneamente os peixes da pesca milagrosa de Pedro ao jogar ele sua rede para o outro lado do barco? Ao curar os leprosos, recebiam eles de volta seus pedaços faltantes, como dedos, artelhos e nariz? Tais exemplos parecem sugerir que Deus tenha então criado matéria nova (5).

Com o homem, a obra criadora de Deus atinge seu grandioso clímax. O Criador foi pródigo na concepção e na execução deste Seu último ato criador. (Se alguém tem dúvidas, bastaria lembrar do caminho que Deus percorreu para tornar possível restaurar o homem caído levando-o de novo à sua perfeição criada no início).

“Deus … lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gênesis 2:7). Os cristãos não aceitam que a vida seja meramente o resultado do arranjo fortuito de átomos e moléculas, de elementos e substâncias químicas nas devidas proporções. Deus deveria ter fornecido algo a mais, necessário para a vida, após ter formado um corpo perfeito, mas inerte. Talvez tenha sido este evento o primeiro exemplo de ressuscitação boca-a-boca (embora Adão não tivesse sido ressuscitado, pois não havia vivido anteriormente).

O procedimento usado por Deus na criação de Eva é significativo. Deus não precisava ter usado uma costela de Adão para criá-la. Mediante esse ato simbólico, todavia, Ele estava dando ciência a Adão, e a todos os homens depois dele, que, se tratassem mal aquela que se juntaria a eles através do casamento, estariam afligindo os seus próprios corpos.

Gênesis 2:21 e 22 retrata pitorescamente como Deus anestesiou Adão, efetuou uma operação cirúrgica, retirou uma costela, e “cerrou” a incisão. Registra também a apresentação de Eva a Adão, naquilo que bem poderia ter constituído uma adequada cerimônia matrimonial. Deus criou Eva após Adão ter tido a oportunidade de observar aves e mamíferos e compreender a necessidade de companheirismo em seu próprio nível.

Tão logo Deus colocou Adão no jardim, deu-lhe também trabalho para fazer. O plano de Deus para a humanidade claramente não inclui o ócio. A utilização ativa das mãos e do cérebro em empreendimentos benéficos acarreta não só saúde física como também mental, e o desenvolvimento harmônico de todas as faculdades.

O sétimo dia

A criação agora estava terminada. Tudo que Deus havia planejado fazer Ele havia executado. Tudo era bom – digno das mãos do Regente do universo. Ele estava satisfeito. O que Ele agora vem a fazer não era necessário por causa de qualquer cansaço. Mas Deus sabia das necessidades da criatura que Ele havia trazido à existência, e então repousou no sétimo dia, abençoou-o, e o deu ao homem como o memorial da criação. “O sábado foi estabelecido por causa do homem” (Marcos 2:27). O homem não pode trabalhar continuamente, sem repouso ou diversão. Para a saúde física mental e espiritual, deve ele observar um período de repouso, periodicamente, fato esse bem compreendido no mundo de hoje.

É especialmente adequado “lembrar do dia de sábado” mediante o estudo e a apreciação das coisas que Deus fez. As lições tiradas do mundo natural são apropriadas às necessidades e à capacidade de entendimento de todas as pessoas, velhos e jovens, iletrados ou instruídos. As coisas da natureza são simples, e até a criança correndo nas campinas floridas, ou atravessando borbulhantes regatos, é capaz de apreciar o Seu criador. As coisas da natureza, entretanto, são também profundas, e o cientista inclinado sobre o seu microscópio ou olhando através do telescópio, jamais poderá compreender plenamente tudo o que está observando. Não obstante, ele também pode apreciar o seu Criador. Tanto para a criança quanto para o cientista, o dia de repouso provê a oportunidade para lembrar-se do Criador e adorá-lO como Aquele que fez o céu e a terra. Se homens e mulheres tivessem sempre lembrado de assim fazer, não é provável que tivesse surgido a teoria da evolução.

Artigo publicado naFolha Criacionista 52

Autor