COMENTÁRIOS A RESPEITO DA

“DECLARAÇÃO SOBRE A DOUTRINA BÍBLICA DA CRIAÇÃO”

(ELABORADA PELO CORPO DOCENTE DO

SEMINÁRIO TEOLÓGICO DA ANDREWS UNIVERSITY)

 

Ruy Carlos de Camargo Vieira

Presidente da Sociedade Criacionista Brasileira

 

 

 

Introdução

 

O corpo docente do Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia da Andrews University aprovou recentemente (30 de abril de 2010) uma “Declaração sobre a Doutrina Bíblica da Criação” cujo original em língua inglesa foi divulgado no site da Universidade.

            Certamente, qualquer manifestação pública sobre o tema das origens, feita por qualquer entidade, confessional ou secular, desperta a curiosidade das pessoas mais interessadas no tema e esta, em particular, por seu caráter oficioso, merece ser divulgada de maneira ampla para o público em geral, que frequentemente se vê enredado por uma malha de posições contraditórias e insinuações tendenciosas que criam falsos cenários envolvendo conflitos ilusórios entre interpretações de declarações bíblicas e fatos supostamente “comprovados cientificamente”. 

            Realmente é louvável a atitude do Seminário ao disponibilizar em seu site a Declaração que expressa a posição de seu corpo docente sobre a Criação. Como ainda não se encontra divulgada essa Declaração em língua portuguesa, provavelmente os comentários a seu respeito feitos a seguir, neste artigo, serão úteis para o objetivo de satisfazer pelo menos parcialmente a curiosidade dos interessados no tema, e para esclarecer o público em geral sobre essa posição referente à Doutrina da Criação.

            Os comentários feitos a seguir sobre a Declaração obedecem à seqüência original dos tópicos constantes da sua estrutura, como vêm apresentados no site da Universidade.

 

Preâmbulo

 

Em seu Preâmbulo, a Declaração relembra que, no ano de 2009, foi comemorado o sesquicentenário do livro de Darwin “A Origem das Espécies”, e que também nesse mesmo ano foram publicados dois significativos documentos que demonstraram o fato de que “ainda continua o diálogo” a respeito da Teoria de Darwin no seio da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

O primeiro desses documentos foi uma carta-aberta do Presidente Mundial da Igreja (“An Appeal”, publicado em “Adventist News Network”, em 9 de junho de 2009), pedindo que todas as instituições de ensino adventistas promovessem a divulgação da concepção histórica de uma Criação recente. Essa concepção havia recebido o voto favorável do Comitê Executivo da Associação Geral no Conselho Anual de 2004 sob o título de “A Response to an Affirmation of Creation” e foi publicada na “Adventist Review” de agosto de 2005.

O segundo documento foi a manifestação do “Board of Trustees” da Andrews University (órgão superior mantenedor dessa Universidade), feita em 27 de outubro de 2009, referente ao apelo feito pelo Presidente Mundial da Igreja para a adoção da concepção abrangida no voto do Comitê Executivo mencionado acima. Esse segundo documento manifestou a posição favorável da Andrews University relativamente à concepção histórica de uma Criação recente e solicitou que os órgãos administrativos da Universidade divulgassem essa posição ao corpo docente, e que ela fosse levada em conta também para a admissão de futuros docentes.

A Declaração afirma que, em face desses dois documentos, o corpo docente da Universidade julgou oportuno oferecer aos órgãos superiores suas considerações sobre “a doutrina bíblica da Criação em relação às ciências naturais”, fazendo isso, entretanto, com “certa cautela”. Nesse sentido, destaca que a discussão sobre esse assunto esteve em andamento durante vários anos e que a Declaração não deveria ser explorada como uma posição oficial adventista. Deveria, sim, ser considerada como “uma plataforma para estudos posteriores e um convite para o diálogo com amigos externos ao Seminário”.

 

Objetivos

 

Inicialmente, é apresentado o entendimento do corpo docente do Seminário quanto ao relato bíblico da Criação, da Queda e da Nova Criação, para depois ser abordada a interface entre ciência e fé.

A fé é vista sob a perspectiva de um Deus pessoal, em contraste proposital com abordagens mais impessoais sobre a natureza divina. Assim, é feita a seguinte referência bibliográfica relativamente à identificação e discussão de três outras abordagens distintas sobre a natureza de Deus: Wesley J. Wildman, “Incongruous Goodness, Perilous Beauty, Disconcerting Truth: Ultimate Reality and Suffering in Nature,” em Physics and Cosmology: Scientific Perspectives on the Problem of Natural Evil, vol. 1, ed. Nancey Murphy, Robert John Russell, e William R. Stoeger. Berkeley, CA: Center for Theology and the Natural Sciences, 2007, pp. 267-294.

O objetivo da Declaração é explicitado como “facilitar um diálogo construtivo sobre diferentes cosmovisões, como, por exemplo, entre o modelo bíblico da Criação e modelos que aceitem a existência de vida na Terra desde tempos incomensuráveis”. Verifica-se, na leitura da Declaração, que, nesse sentido, é dada ênfase especial ao modelo do Evolucionismo Teísta.

A Declaração encerra-se com um destaque dado à mordomia do ser humano relativamente ao meio ambiente, defendendo uma posição criacionista favorável às causas ambientalistas.

 

Introdução à Doutrina da Criação

 

            Dando sequência a essas considerações iniciais gerais, a Declaração apresenta considerações específicas sobre a Doutrina da Criação como algo fundamental nas Escrituras, independente do conceito de Salvação, precedendo-o e tendo consistência própria. Nesse sentido, é feita menção ao fato de que “a priorização da Salvação, relativamente à Criação, não tem fundamentação bíblica, tendo sido sugerida principalmente por Marcion de Sinope nos tempos iniciais da Igreja, mais modernamente abraçada pelos teólogos Bultmann, Barth e Von Rad e passando a ser preponderante na teologia contemporânea”.

A Declaração também ressalta que a Criação tem um aspecto doxológico, que estabelece a fundamentação para a adoração e a espiritualidade, mediante a exaltação do poder, da grandeza, da bondade e do amor de Deus. “O Criador é digno de adoração porque atua pelo poder de Sua palavra e não por processos naturais aleatórios desenvolvidos ao longo de extensas eras” (“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas Tu criaste; sim, por causa da Tua vontade vieram a existir e foram criadas” – Apocalipse 4:11; “Adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” – Apocalipse 14:7).

            Nesse contexto da adoração de um Deus Criador de todas as coisas, é mencionado que o conceito de “céu” na cosmologia judaica tem sido frequentemente minimizado e distorcido, sendo apresentado simplesmente como correspondente a uma redoma metálica sustentada por uma terra plana. A Declaração destaca, entretanto, ser esse um conceito inventado no século dezenove, e a esse respeito indica como bibliografia o ensaio que em breve seria publicado pelo Conselho de Fé e Ciência da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, intitulado “Myth of the Vaulted Dome”, de autoria de Richard Davidson and Randall Younker.

             É feita, também, breve menção ao fato de serem complementares, e não contraditórios, os dois relatos da Criação encontrados respectivamente nos capítulos 1 e 2 de Gênesis, sendo indicado como bibliografia sobre o assunto o capítulo “Genesis 2: A Second Creation Account?” constante do livro Creation, Catastrophe & Calvary, ed. John T. Baldwin. Hagerstown, MD: Review and Herald Pub. Association, 2000, pp. 69-78, e também o livro de Jacques B. Doukhan intitulado The Genesis Creation Story. Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1978.

            Essa “Introdução à Doutrina da Criação” encerra-se com um conjunto de afirmações que expõem as razões pelas quais o relato bíblico da Criação se reveste de grande importância:

 

“Cremos que a doutrina da Criação insere-se em uma visão criacionista mais abrangente formulada pela Bíblia, tendo a ver com outras doutrinas inter-relacionadas, como por exemplo, sem esgotar o assunto, o Sábado, a Queda, a Salvação, o Dilúvio, a Escatologia e a Ética. Acima de tudo, como será observado a seguir, a compreensão adequada das origens preserva a integridade das Escrituras, salvaguarda o caráter amorável de Deus e estabelece a realidade da redenção e a esperança de uma nova Criação.” 

 

Esse inter-relacionamento continua a ser abordado de maneira mais destacada no decorrer dos tópicos seguintes da Declaração.

 

A Semana da Criação

 

            A posição defendida na Declaração quanto à questão da Semana da Criação é a da literalidade do texto bíblico, deixando claro que há apoio exegético para uma cronologia curta, da ordem de alguns milênios e não para uma cronologia longa, da ordem de mais de dezenas de milênios. Como referência bibliográfica para essa posição, é citado o artigo de Michael Hasel, “Time and Biblical Chronology: A Comparative Study,” apresentado na Conferência sobre “Fé e Ciência” realizada pela Divisão Norte-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia em agosto de 2003, em Glacier View Ranch, Colorado.

            Em termos denominacionais, é destacado também que essa posição concorda com a que foi expressa pela “Southern Adventist University School of Religion” em seu documento intitulado “A Reafirmation of Creation” de setembro de 2004, que reza em seu tópico 5: “Afirmamos que a criação da vida na Terra ocorreu recentemente, há cerca de alguns milhares de anos (Gênesis 5, 11; 1 Crônicas 1:1-27)”.

            Fica bem explicitada, na Declaração, a aceitação da criação recente da vida na Terra, desde as suas primeiras formas até os seres criados à imagem e semelhança de Criador, em um tempo em que seres habitantes em outras paragens de um Universo já existente regozijavam-se com alegria (Gênesis 1-2; 5; 11; 1 Crônicas 1:1-27; Jó 38:4-7; Salmos 33:5-6, 8-9; 146:5-6; 148:5; Provérbios 8; Mateus 1; Lucas 3; João 1:1-18; Colossenses 1:16-17).

            A Declaração é enfática ao afirmar a literalidade da Semana da Criação:

 

“Deus criou de maneira incruenta, chamando à existência as formas de vida  no decorrer de uma semana literal, composta de seis dias terrestres literais idênticos aos nossos dias atuais, seguidos por um dia de repouso (Gênesis 1 e 2; Êxodo 20:11; 31:17; Hebreus 4:4; 11:3; Apocalipse 14:7).  

 

            Em função da sua argumentação a favor da literalidade da Semana da Criação, a Declaração lança um alerta com relação à incompatibilidade da aceitação dos dias da criação como sendo “míticos”, “simbólicos”, “metafóricos”, “funcionais” ou “cairológicos”.

            Relativamente aos dias “funcionais” (assim designados por corresponderem a “funções” na Criação, e não à Criação material propriamente dita), é feita referência ao livro de John H. Walton, The Lost World of Genesis One; Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2009, no qual o autor apresenta uma análise recente dessa proposição.

            Quanto aos dias “cairológicos”, aparentemente constituem eles uma interpretação bastante exótica e sofisticada introduzida recentemente por William Dembski, um dos principais teóricos do movimento do “Design Inteligente”, certamente na tentativa de, por esse meio, contornar o problema da idade da Terra com que também se defronta esse movimento. A referência bibliográfica sobre o assunto é William A. Dembski, The End of Christianity. Nashville, TN: B & H Publishing Group, 2009, particularmente o capítulo “A Kairological Reading of Genesis 1-3”, pp. 142-255.

            Outra tentativa citada ainda, para fugir da literalidade dos dias da Criação, é a dos chamados “dias divinos”, em que cada um dos seis dias da Criação são interpretados como supostamente representando multi-milhões de anos, para totalizar uma “semana” de aproximadamente 3,8 bilhões de anos solares. É feita referência, nesse sentido, ao livro de  Gerald L. Schroeder, The Science of God: The Convergence of Scientific and Biblical Wisdom; New York: Free Press, 1997.

            Certamente, todas as abordagens da origem da vida na Terra que envolvem a criação de seres “descartáveis” para proporcionar uma escala ascendente até chegar ao ser humano, mediante predação, fome, sofrimento, doenças, morte, extinção em massa, catástrofes geológicas e desastres naturais, põem em dúvida o caráter de um amoroso e benigno Deus Criador.

            Esse tópico da “Semana da Criação” encerra-se com o destaque dado ao sétimo dia, o dia de repouso, abençoado e santificado, instituído por Deus para toda a humanidade (Gênesis 2:1-3; Marcos 2:27):

 

O sábado do sétimo dia serve de imutável memorial de uma Criação completada em seis dias, estabelecido como sinal da relação de santidade existente entre o Criador e os seres criados à Sua imagem (Gênesis 1:26-27; Êxodo 20:8-11, 31:17; Ezequiel 20:12). O sábado mostra que pertencemos a Deus, que “foi Ele quem nos fez, e dEle somos” (Salmo 100:3). As seguintes palavras de louvor são particularmente apropriadas aos adoradores no mundo atual: “Bem-aventurado é aquele … cuja esperança está no Senhor, seu Deus, que fez os céus e a terra, o mar e tudo que neles há … que dá pão aos que têm fome … liberta os encarcerados … abre os olhos aos cegos … levanta os abatidos … ama os justos … ampara os órfãos e as viúvas … Aleluia! (Salmo 146:5-10).”

 

A Queda e os Efeitos do Pecado sobre a Natureza

 

Lamentavelmente, a harmonia do relacionamento original entre o ser humano e o seu Criador não permaneceu por muito tempo, e neste tópico a Declaração destaca numerosos aspectos do resultado do pecado incidindo sobre a Criação (tanto em seu aspecto orgânico como inorgânico).

De fato, a Criação, que havia sido declarada como “muito boa” (Gênesis 1:31), passou a sofrer degradação, sofrimento e morte (Romanos 8:20-21), aviltando e mascarando o plano original de um Deus Criador amoroso e benigno.

Esses resultados do pecado incidiram não só sobre Adão e Eva, como também sobre toda a natureza sobre a qual Deus lhes havia dado o domínio. São ressaltados, na Declaração, os resultados sobre o mundo vegetal e animal e sobre o solo, a proibição do acesso à árvore da vida, o sofrimento e a morte abrangendo todos os seres vivos, tudo indicando a atuação de forças antagônicas a partir da entrada do pecado neste mundo:

 

“Isso está claro no livro de Jó (Jó 1–2) e também em outras passagens das Escrituras que revelam que um inimigo de Deus está trazendo morte e destruição (Isaías 14:12, 16-17; Hebreus 2:14; João 8:44). Embora Deus mantenha o controle superior deste mundo, a transgressão persistente das leis de Deus e o total desrespeito à Sua aliança eterna, trazem maldição sobre os seres humanos e sobre toda a Terra (Isaías 24:4-6). Esse fato traz implicações escatológicas. Quanto mais se aproximar a volta de Cristo, mais aumentarão a violência e a iniqüidade, e também os desastres naturais (Mateus 24:7-8; Lucas 21:25-27). Quando se completar a medida da iniqüidade humana, as sete últimas pragas trarão destruição sobre toda a Terra e Deus destruirá os que destroem a Sua Criação (Apocalipse 11:18).

 

            Apesar desse terrível panorama descortinado na Declaração, no final desse tópico é feito um aceno para a esperança das promessas de novo céu e nova terra (Isaías 65:17; 2 Pedro 3:13; Apocalipse 21:1), onde não mais haverá pecado, dor, sofrimento ou morte, onde todas as velhas coisas passarão, a natureza será restaurada à sua beleza e glória originais e toda a criação será novamente declarada “muito boa”.  

 

As Ciências Naturais, a Criação e a Hermenêutica Bíblica

 

            Iniciando esse tópico, a Declaração lembra que, frequentemente nas discussões acadêmicas, a ciência e a religião são consideradas como âmbitos distintos, que não se inter-relacionam, e é apresentada como referência bibliográfica ilustrativa dessa posição contrária à complementaridade o livro de Stephen Jay Gould, Rocks of Ages: Science and Religion in the Fullness of Life; New York: Ballantine Pub. Group, 1999.

            A Declaração, por outro lado, manifesta-se inteiramente favorável à complementaridade entre as ciências naturais e a doutrina da Criação, e aborda três áreas específicas em que apresenta argumentação a favor dessa tese – “A Metodologia Científica e a Interpretação das Escrituras”, “Macro-evolução, Micro-Evolução e Criação”, e “Geologia, Criação e o Dilúvio Bíblico”, como considerado a seguir.

 

  • A Metodologia Científica e a Interpretação das Escrituras

 

Nessa primeira das três áreas consideradas, a Declaração explicita o apreço do corpo docente do Seminário pelas ciências naturais e pelos que desenvolvem pesquisas nesse campo, bem como, particularmente, pelo ensino de ciências em instituições educacionais adventistas, pautado por metodologias científicas.

Não obstante, relembra que a busca da verdade não deve ser restringida pela aplicação somente de metodologias científicas, e que não devem ser descartados outros métodos de igual valia. Nesse sentido, lembra que cientistas cristãos podem estar abertos não somente a evidências naturais, mas a outras que apontem causas não naturais possíveis ou mesmo prováveis. Por essa razão, a Declaração rejeita o materialismo metafísico, que alega “que toda a realidade pode ser explicada sem necessidade de se referir ao poder criador e mantenedor e à sabedoria de Deus”.   

“Como adventistas, cremos na realidade divina, transcendendo ao materialismo”, são as palavras constantes da Declaração no trecho do qual transcrevemos ainda o seguinte:

 

“Cremos, por exemplo, que a origem do espaço, do tempo, da energia, da matéria, das leis e das constantes da natureza, e da própria vida, não são resultado de geração espontânea ou de auto-desenvolvimento, mas sim da ação criadora do desígnio e do poder divinos … (João 1:1; Colossenses 2:17-18)”.

 

            Partindo do princípio de que as coisas visíveis na natureza revelam os atributos invisíveis de Deus (Romanos 1:18-20), a Declaração realça que a realidade de Deus é demonstrada pelos olhos da fé, de modo que não se torna necessário provar essa realidade através da razão humana.

De forma análoga, “quando surgirem interpretações conflitantes entre dados científicos e as Escrituras”, menciona a Declaração, “respeitosamente estudamos de novo as alegações de ambas as fontes, procurando a harmonia entre elas, a partir da posição de que, como o livro da natureza e o livro da revelação procedem da mesma mente superior, não há como deixarem de estar em harmonia entre si quando interpretados corretamente”. E, complementando e completando essa posição, a Declaração afirma:

 

“Se, após nova e cuidadosa investigação da Palavra de Deus e dos dados empíricos relativos a qualquer ponto em questão, concluirmos que não é possível uma interpretação das Escrituras que esteja em harmonia com uma determinada alegação da ciência convencional, sem que seja alterado o significado claramente expresso das Escrituras, voluntariamente damos prioridade ao ensinamento da Palavra de Deus. E fazemos isso com a convicção de que o aparente conflito poderá vir a ser resolvido a partir de mais pesquisas posteriores (Colossenses 2:8; 1 Timóteo 6:20; 2 Coríntios 10:5).”

 

  • Macro-evolução, Micro-evolução e Criação

 

Nessa segunda área considerada, a Declaração endossa a “micro-evolução” como um fato observável, e rejeita a “macro-evolução” (ou “teoria sintética da evolução”) por ser ela uma teoria altamente especulativa. Assim, é ressaltado que Charles Darwin realmente descobriu a realidade empiricamente verificável da “micro-evolução” (na realidade teria sido preferível adotar, no lugar dessa expressão, algo como “variabilidade das populações”), que ocorre mediante mecanismos como alterações aleatórias e seleção natural no decorrer do tempo. Entretanto, é questionada a ocorrência da “macro-evolução”, ou seja, da alegação de que formas simples de vida tenham se desenvolvido no decorrer de imensos intervalos de tempo até se tornarem seres humanos, mediante mutações aleatórias, seleção natural e descendência com modificação.

O corpo docente do Seminário deixa claro que “não acredita que a vida possa existir à parte de Deus” e que existem dados biológicos que permitem “questionar a alegação de uma origem natural para a vida e para as formas vivas a partir de matéria inerte”, ou seja, coloca-se em posição frontalmente contrária à “geração espontânea” considerando-a como também uma forma de “macro-evolução”.  

 

  • Geologia, Criação e o Dilúvio Bíblico

 

Nessa terceira e última área considerada no tópico sobre “As Ciências Naturais, a Criação e a Hermenêutica Bíblica”, a Declaração se estende bastante, focalizando primeiramente as camadas de rochas sedimentares e a chamada “coluna geológica”, destacando que “qualquer tentativa de incorporar, no relato da Criação, enormes lapsos de tempo para [o desenvolvimento d]as formas de vida que existiram na Terra, está em confronto direto com a intenção do texto bíblico”.

De fato, a chamada “coluna geológica”, com seus estratos contendo fósseis, é considerada pela “geologia histórica” tradicional como uma confirmação do modelo de uma “Terra antiga”. Em contraposição, a Declaração enfatiza que os fósseis existentes na chamada “coluna geológica” (e a própria coluna) não antecedem a Semana da Criação, mas “são amplamente associados às deposições ocorridas durante o Dilúvio de Gênesis, quando a crosta terrestre [original] foi desfeita e em seguida formada de novo, de maneira rápida (Gênesis 6:13, 7:11, 8:1-5, 21, 9:11)”.

No entender da Declaração, por essa razão não há porque dizer que a chamada “coluna geológica” entra em conflito com a concepção de uma Criação recente, em seis dias. E é esse o motivo pelo qual é julgada importante a formulação de um registro histórico bem fundamentado, resultante de um Dilúvio universal, sem nenhuma conexão com qualquer exposição histórica do relato bíblico da Criação.

Com relação a essa concepção, a Declaração reconhece os numerosos desafios levantados contra ela, por exemplo no âmbito da datação radiométrica e das consequências do balanço das energias postas em jogo em um Dilúvio universal. Não obstante, é destacada a necessidade de se trazerem à tona os dados referentes a esses desafios, para uma discussão imparcial a seu respeito.

Exemplos de alguns dos mais importantes desafios são apresentados em referências bibliográficas como as seguintes que foram citadas: Donald U. Wise, “Creationism’s Geologic Time Scale”, American Scientist 86, Março-Abril 1998: pp. 160-173; Davis A. Young, The Biblical Flood; Grand Rapids: Eerdmans, 1995; Ronald L. Numbers, The Creationists; New York: Alfred A. Knopf, 1992; Robert W. Hanson, ed., Science and Creation: Geological, Theological, and Educational Perspectives, American Association for the Advancement of Science: Issues in Science and Technology Series; New York: MacMillan Pub. Company, 1986; Brent Dalrymple, Radiometric Dating, Geologic Time, and the Age of the Earth, reimpressão, 1981, disponível no U.S. Geological Survey, Menlo Park, California.

A Declaração deixa claro que, no momento, não se tem resposta para todas as questões implícitas nesses desafios, mas que se deve continuar a investigar o registro geológico em busca de dados consistentes com o que seria de se esperar em consequência de uma catástrofe universal nos moldes da que está descrita nos capítulos 6 a 9 do livro de Gênesis.

São também feitas referências a muitos exemplos de questionamentos usuais, como as seguintes: E. G. Kennedy, R. Kablano, and A. V. Chadwick, “A Reassessment of the Shallow Water Depositional Model for the Tapeats Sandstone, Grand Canyon, Arizona: Evidence for Deep Water Deposition”, Geological Society of America Abstracts With Programs 28, no. 7 , 1996: A-407; Arthur V. Chadwick, “Megatrends in North American Paleocurrents”, Society of Economic Paleontologists and Mineralogists Meetings Abstracts 8, 1993: p. 58; idem, “Megatrends in North American Paleocurrents”, 2007, http://origins.swau.edu/papers/global/paleocurrents/eng/; H. Paul Buchheim, “Paleoenvironments, Lithofacies, and Varves of the Fossil Butte Member of the Eocene Green River Formation, Southwestern Wyoming”, Contributions to Geology 30, nº 1, Spring 1994: pp. 3-14. [Buchheim descobriu que os assim chamados varvitos próximos ao litoral não são varvitos verdadeiros, nem deposições anuais (p. 3)]. Ver também Andrew A. Snelling, Earth’s Catastrophic Past: Geology, Creation & the Flood, 2 vols., Dallas, TX: Institute for Creation Research, 2009; Derek Victor Ager, The New Catastrophism: The Importance of the Rare Event in Geological History, Cambridge: Cambridge University Press, 1993; Todd Charles Wood and Paul A. Garner, Genesis Kinds: Creationism and the Origin of Species, Issues in Creation Series, nº 5, Eugene, OR: Wipf & Stock, 2009; Sir Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe, Why Neo-Darwinism Does Not Work, Cardiff,  Wales: University College Cardiff Press, 1982.

            Além desses aspectos mais diretamente ligados a controvérsias na interpretação de dados científicos, a Declaração manifesta-se também sobre aspectos teológicos ligados ao assunto do Dilúvio, conforme se pode observar na transcrição feita a seguir:

 

“Como já observado anteriormente, a realidade histórica e a extensão do Dilúvio constituem elementos importantes no âmbito de uma visão mais abrangente dos ensinamentos cristãos sobre a Criação, o Juízo e a Redenção. O Dilúvio (mabbûl em Hebraico, palavra usada somente para designar o Dilúvio relatado no livro de Gênesis) foi relutantemente iniciado por Deus, e foi divinamente presidido por Ele (Salmo 29:10) como um juízo destrutivo sobre a universal impiedade humana e a violência animal. O efeito desse juízo foi desfazer toda a Criação – conclusão apoiada pela estrutura literária de Gênesis 6-9. que se apresenta na seqüência inversa à da Criação constante de Gênesis 1-2. A natureza universal desse juízo é também apoiada pelo contexto temático mais amplo de Gênesis 1-11, que claramente aborda os temas universais da Criação, da Queda, da disseminação do pecado, e do plano da Redenção não só para os seres humanos, mas também para as demais criaturas e para todo o planeta. (Romanos 8:20-21).”    

 

            Verifica-se que é dada bastante importância à questão da universalidade do Dilúvio na abordagem dessa terceira e última área considerada no tópico sobre as ciências naturais e a Hermenêutica Bíblica.

 

Qual o Interesse de um Ponto de Vista Bíblico da Criação?

 

            A Declaração praticamente se encerra com este tópico, que abrange as seguintes cinco áreas específicas em que se mostram as razões pelas quais é importante a crença na Criação literal, na Queda e no Dilúvio: “Hermenêutica Bíblica”, “O Caráter de Deus”, “A Salvação através de Cristo”, “O Sábado” e “Escatologia”.

 

  • Hermenêutica Bíblica

 

A Declaração enfatiza que, “em acordo tanto com eruditos da crítica histórica, quanto com os evangélicos conservadores, a melhor interpretação exegética do texto hebraico apóia a Criação recente em seis dias, a Queda e o Dilúvio universal”.

A esse respeito, é apresentada a seguinte referência bibliográfica que cobre uma discussão bem fundamentada sobre o fato de que a intenção dos autores dos capítulos 1 e 2 de Gênesis foi a articulação de um relato histórico, factual, da atividade criadora de Deus no decorrer da Semana da Criação: Alvin Plantinga, “Evolution, Neutrality, and Antecedent Probability: A Reply to McMullin and Van Till”, in Intelligent Design Creationism and Its Critics: Philosophical, Theological, and Scientific Perspectives, ed. Robert T. Pennock, Cambridge, MA: MIT Press, 2001, pp. 215-217.

 

  • O Caráter de Deus

 

Inicialmente, a Declaração explicita o caráter do Deus Criador utilizando a passagem de Êxodo 34:6 – “Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade”.

Em seguida, ressalta que o modelo das origens conhecido por “Evolução Teísta”, que tenta acomodar os dois primeiros capítulos de Gênesis em um contexto evolutivo darwinista, na realidade nada mais faz do que criar insuperáveis problemas com relação ao amoroso caráter de Deus, pois nesse modelo Ele supostamente estaria desenvolvendo Sua atividade criadora mediante “predação, sofrimento e morte”. É ressaltado que, aliás, essas são as próprias expressões usadas por Charles Darwin em seu famoso livro On the Origin of Species (facsimile da primeira edição, com introdução de Ernst Mayr, Cambridge, MA: Harvard University Press, 1981, p. 490).

A propósito da incompatibilidade do caráter do Deus Criador com os pressupostos do modelo evolucionista darwinista, a Declaração apresenta, ainda, outras duas referências bibliográficas de peso, de autores não-teístas, certamente com a intenção de descartar qualquer tentativa “concordista” visada pelo Evolucionismo Teísta.

A primeira delas é de David Hull: “The God of Galapagos,” Nature 352, August 1991: p. 486: “O processo [da Evolução] é pleno de aleatoriedade, incerteza, incrível devastação, morte, dor e horror. … O deus sugerido pela teoria da evolução e pelos dados da história natural … não é um deus de amor que cuida de sua criação. Ele é … descuidado, indiferente, quase diabólico. Certamente ele não é o tipo de deus a quem qualquer pessoa se disporia a orar.”

A segunda é de Jacques Monod: “The Secret of Life,” entrevista com Laurie John, Australian Broadcasting Co., em 20 de junho de 1976 (pouco antes da morte de Monod). Essa entrevista é citada no livro de Henry M. Morris, That Their Words May Be Used Against Them, Green Forest, AR: Master Books, 1997, p. 417: “A luta pela existência e a eliminação do mais fraco constitui um processo horrível, contra o qual toda a ética moderna se revolta. A sociedade ideal é “não-selecionista”, e sim aquela onde o fraco seja protegido, o que é exatamente o contrário da chamada ‘lei natural’. Fico surpreso como poderia um cristão defender a ideia de que esse seria o processo que Deus tivesse estabelecido para que pudesse haver evolução.”

A Declaração nesta área termina destacando como, realmente, o correto entendimento do ensinamento bíblico sobre as origens salvaguarda a verdade sobre a benignidade e o amor de Deus, atributos esses que cremos serem verdades fundamentais de toda a Escritura (Deuteronômio 32:3-4; 1 João 4:8).

 

  • Salvação através de Cristo

 

Ainda em conexão com a crítica anterior feita ao modelo do Evolucionismo Teísta, a Declaração destaca, nesta área, que a rejeição da existência de uma Queda literal, de um Dilúvio universal e de um casal original que pecou e cujo pecado trouxe cruéis conseqüências é comum também a outros modelos evolucionistas.

Assim, a aceitação da existência da morte anteriormente ao próprio surgimento do ser humano sobre a Terra, e portanto anteriormente à entrada do pecado no mundo, é algo inteiramente contrário à revelação bíblica de que a morte é conseqüência do pecado. Isso automaticamente nega a necessidade de um Salvador para redimir a humanidade pela Sua morte na cruz. (Gênesis 2:9, 17; Romanos 5:12, 14, 6:23, 8:20:21; 1 Coríntios 15:26).

Resulta, assim, que as doutrinas bíblicas da Criação e do Dilúvio universal salvaguardam a doutrina da morte vicária de Cristo.

 

  • O Sábado

 

No tópico da Declaração referente à “Semana da Criação” já haviam sido feitas considerações sobre o Sábado, razão pela qual aqui o texto referente a essa área é bastante sucinto, resumindo-se ao que vem transcrito a seguir:

“O Sábado foi criado por causa do homem” (Marcos 2:27). Quando e por que razão? Como já mencionado, o primeiro capítulo de Gênesis ensina que na Semana da Criação o Sábado do sétimo dia foi estabelecido como o memorial perpétuo do término da obra criadora de Deus (Gênesis 1; Êxodo 20:11). Se as formas de vida tivessem surgido na Terra no decorrer de milhões de anos, certamente estaria fatalmente comprometida esta razão bíblica fundamental para o estabelecimento do Sábado.”  

 

  • Escatologia

 

Nesta quinta e última área de interesse, a Declaração aborda a questão da coerência e confiabilidade dos relatos bíblicos referentes á Criação, em conexão com as promessas que apontam para uma Terra restaurada.

Apesar de ser esse um tema extremamente abrangente, a Declaração restringe-se a apenas um aspecto: a comparação entre o texto de Êxodo 20:11 (“Pois em seis dias criou Deus os céus e a terra”) e João 14:1-3 (“Não se turbe o vosso coração … Eu voltarei outra vez.”). E conclui com as palavras:

 

“A esperança cristã está fundamentada nessas últimas palavras de Jesus. Entretanto, se a ciência mostra ser falsa a afirmação ‘protológica’ de Cristo, que confiança pode o crente depositar na Sua promessa escatológica de uma gloriosa segunda vinda (2 Pedro 3)?”

 

ressaltando assim a importância da verdade histórica da doutrina bíblica da Criação.

 

Mordomia Responsável da Criação de Deus

 

            As considerações constantes da Declaração, cobrindo as cinco áreas do último tópico, mostraram razões pelas quais tem importância para a mensagem do Evangelho a doutrina da Criação recente, em seis dias. Como a Criação ainda declara a glória de Deus, embora de maneira não tão perfeita como antes da Queda, certamente é um dever dos cristãos darem glória a Deus também como mordomos da Criação. Por isso, a Declaração encerra-se com a reflexão resumida no parágrafo seguinte, sobre a responsabilidade que recai sobre os cristãos, como criacionistas.

             Certamente, como criacionistas, os cristãos deveriam ter muito mais preocupação com o meio ambiente do que os evolucionistas, por reconhecerem que a natureza foi criada por Deus. Assim, por exemplo, deveriam procurar preservar as espécies ameaçadas, contrapondo-se ao evolucionismo darwinista que é indiferente à extinção das espécies. “De fato, se as corujas pintadas e os ursos polares desaparecerem, isso nada mais seria do que a seleção natural atuando. Nesse sentido, o deus da evolução teísta nada tem de conservacionista!”.

            Também a doutrina do descanso sabático, estendida aos anos sabáticos e aos anos de jubileu, refreia a exploração predatória dos recursos naturais (Levítico 25:1-12).

            Finalmente, a Declaração se encerra destacando que é privilégio do Cristão “celebrar e alegrar-se com a beleza e a excelência da Terra, descobrir o relacionamento com Deus através de Sua Criação, e amar o coroamento das obras de Suas mãos, seus irmãos e irmãs nessa Criação”.

 

Apreciação e Comentários Finais da SCB

 

            À guisa de uma apreciação final do conteúdo da Declaração, a Sociedade Criacionista Brasileira destaca a firmeza com que nela são expostas e defendidas as concepções criacionistas bíblicas básicas de um Deus Criador pessoal, de dias literais na Criação, da origem da vida, da vida recente na Terra e um Dilúvio universal recente, e da verdadeira natureza da “coluna geológica”. Da mesma maneira, destaca a oposição cerrada feita na Declaração ao Evolucionismo em geral, e em particular ao Evolucionismo Teísta, e também a importância da advertência feita contra o conceito de “dias cairológicos” que recentemente passou a ser introduzido no seio do movimento do “Design Inteligente”.

            Talvez algo mais coubesse ter sido introduzido na Declaração com relação aos “desafios”, para mostrar vários aspectos pontuais da controvérsia entre Criação e Evolução que têm sido objeto de pesquisas sob a concepção criacionista, trazendo notáveis evidências a seu favor, como divulgado por Sociedades Criacionistas de várias países do mundo (e em particular pela SCB no Brasil).

             Aparentemente, conviria também ter sido dado um destaque maior na Declaração à conexão íntima entre o aspecto “doxológico” da Criação que foi mencionado no tópico “Introdução à Doutrina da Criação” (“Adorai Aquele que fez”) e o aspecto escatológico referente ao tempo do juízo (“Vinda é a hora do Seu juízo”), ambos constantes no texto de Apocalipse 14:6-7. A Sociedade Criacionista Brasileira entende que aí está a raiz do Criacionismo Bíblico no tempo presente.

Independentemente dessas ou de quaisquer outras observações pontuais referentes à Declaração do corpo docente do Seminário Teológico da Andrews University sobre a doutrina bíblica da Criação, que eventualmente pudessem ser convenientes ou oportunas, a Sociedade espera que sua iniciativa de apresentar para publicação estes comentários feitos à Declaração possa realmente ser útil para divulgar esse valioso e importante documento e, paralelamente, talvez satisfazer parcialmente a curiosidade dos interessados no tema e esclarecer o público em geral sobre essa posição do corpo docente do Seminário.  

            A Sociedade apresenta seus cumprimentos ao corpo docente do Seminário Teológico da Andrews University, estendendo-os também a todos que se esforçaram por redigir a Declaração e divulgá-la. Certamente ela contribuirá bastante para trazer à discussão imparcial ainda numerosos pontos relevantes, em busca de resposta aos desafios existentes para a consolidação do modelo criacionista nos meios acadêmicos.  

 

A Sociedade Criacionista Brasileira manifesta, finalmente, ter sido uma grande honra o convite recebido da revista “Hermenêutica” para apresentar alguma colaboração escrita para publicação nesse importante periódico do Centro de Pesquisa de Literatura Bíblica do SALT/IAENE.

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