A CATÁSTROFE DE UM CONCEITO SUPOSTAMENTE CIENTÍFICO
Em alguns campos da ciência – como por exemplo a Mecânica, na Física – existem determinados fenômenos que podem ser considerados como casos particulares de outros, sempre que se busque a sistematização das observações e o estabelecimento de leis que possam explicar o comportamento geral dos eventos que são objeto dessas observações. Assim, por exemplo as “Leis de Newton” da Dinâmica podem abranger como caso particular toda a Estática.
Da mesma forma, o processo de deposição de sedimentos em suspensão dentro de uma massa fluida pode tanto ser considerado como um processo “estático” (quando ocorre com a massa fluida em repouso), como um processo “dinâmico” (quando ocorre com a massa fluida em escoamento). Evidentemente, neste caso, o processo “estático” será um caso particular do processo “dinâmico” mais geral.
A Estratigrafia, ramo da Geologia que estuda a ordem e a posição relativa das rochas sedimentares que ocorrem na crosta terrestre, basicamente iniciou-se com Nicolau Steno, que no século XVII, com seu trabalho “Prodromus”, lançou a noção fundamental da superposição dos estratos rochosos. Desta noção resultou o Princípio da Superposição, até hoje aceito na Estratigrafia como fundamental para a interpretação dos relacionamentos existentes entre as seqüências sucessivas das camadas de rochas sedimentares.
Este Princípio da Superposição basicamente estabelece que, em uma seqüência de estratos, as camadas superiores foram depositadas anteriormente às camadas inferiores. Foi este Princípio que proporcionou um critério para a possibilidade de determinação das idades relativas das camadas rochosas sucessivas. Robert Hooke, contemporâneo de Steno, foi quem propôs que os fósseis encontrados nos depósitos sedimentares poderiam ser utilizados para estabelecer uma cronologia para as correspondentes camadas rochosas, idéia essa secundada por William Smith praticamente cem anos depois, embora demorasse ainda mais um século para que essa idéia viesse a ser adotada amplamente, já à luz da teoria da evolução proposta por Charles Darwin.
Não deveria ter passado despercebido pelos pesquisadores mais argutos que ficava assim estabelecido o círculo vicioso da datação geológica – os “fósseis índices” ditando as idades geológicas das rochas, de conformidade com um suposto processo evolutivo, e as rochas, por sua vez, caracterizando a evolução dos “fósseis índices”.
Em busca da determinação das idades das formações rochosas sedimentares, e com a aceitação do “Atualismo” – isto é, do “Princípio do Uniformismo”, ou seja, que o presente descreve o passado – passaram a ser atribuídos longos intervalos de tempo para a deposição dos sedimentos que estivesem em suspensão em massas de água, supostamente em repouso, estabelecendo-se assim a chamada “Coluna Geológica” com suas camadas dispostas em uma seqüência cronológica padrão.
Acontece, porém, que as evidências não favorecem a suposição de que a maioria das camadas sedimentares tenham sido formadas por deposição de sedimentos que estivessem em suspensão em massas de água em repouso, em condições “estáticas”. Pelo contrário, não só dados de campo, como também dados experimentais obtidos em laboratório mediante experimentos cuidadosamente elaborados, apontam para a possibilidade de formação rápida dos estratos rochosos sob condições “dinâmicas” decorrentes de escoamentos de água carregando sedimentos em suspensão.
Surge assim, modernamente, um questionamento de peso ao Princípio da Superposição – tal como formulado há cerca de 300 anos – como explicação válida para a formação de todos os estratos rochosos encontrados na crosta terrestre!
Para melhor esclarecer esta linha de argumentação, os Editores julgaram apropriado apresentar a seguir a narração das experiências procedidas pelo sedimentologista francês Guy Berthault, que constam de um excelente vídeo produzido por Sarong Jersey, e que já se encontra dublado em português, podendo ser disponibilizado aos interessados no “site” da Sociedade Criacionista Brasileira.
Guy Berthault é formado pela École Polytechnique de Paris, e é membro da Sociedade Geológica e da Associação dos Sedimentologistas da França. Seus trabalhos experimentais originais foram publicados pela Academia de Ciências Francesa e pela Revista da Sociedade Geológica da França.
NARRAÇÃO DO FILME “EXPERIMENTOS DE ESTRATIFICAÇÃO”
Guy Berthault
(Video-teipe com 35 minutos de duração)
Sempre fiquei curioso com as longas eras da Geologia Histórica, com seus milhões de anos, e interessei-me em saber até que ponto isso estaria correto, e se era algo que tinha sido testado experimentalmente. Foi por essa razão que há alguns anos retomei meus estudos sobre o assunto, focalizando particularmente a aplicação dos Princípios da Estratificação para a obtenção da cronologia relativa da superposição dos estratos. Iniciei, na década de 1970, a leitura dos relatórios da Geological Society of America sobre as campanhas de perfuração do leito oceânico feitas pelo navio “Glomar Challenger”. Foi a partir desses relatórios que fiquei conhecendo os trabalhos do geólogo alemão Johannes Walther, um dos principais fundadores da Sedimentologia.
Antes de continuar, vejamos o significado de alguns dos termos envolvidos:
· Estratificação é o termo geral para a formação de camadas nas rochas sedimentares.
· Estrato é uma camada individualizada de uma formação litológica homogênea, depositada paralelamente às formações mais profundas anteriores. Cada estrato separa-se dos estratos adjacentes, ou co-estratos, por superfícies de erosão, ausência de deposição, ou mudança abrupta de características. O termo estratos inclui camadas e lâminas, que têm conotações bem definidas: A espessura dos estratos varia desde menos do que 1 milímetro para as lâminas de micro-estratos, até mais de 1 metro. Freqüentemente os estratos mostram evidências de segregação das partículas que os compõem, com seu tamanho decrescendo de baixo para cima. As partículas maiores de baixo vão sendo segregadas até as menores de cima. As superfícies de separação encontram-se entre as partículas mais finas de cima de um estrato e as maiores de baixo do estrato superposto. São planos de acamamento que podem separar dois estratos ocasionados por sedimentos provenientes de erosão.
· Uma fácies é uma série de estratos superpostos que têm o mesmo conteúdo litológico. Por exemplo, uma série de estratos, compostos individualmente de arenito, argila ou calcário, constitui uma fácies. A encosta desta montanha está dividida em fácies.
· Alguns depósitos sedimentares são ainda classificados de acordo com a sua coloração. Por exemplo, arenito, amarelo; argilito, azul; calcário, alaranjado. Cada depósito subdivide-se em estratos.
Durante dois séculos, desde que a Estratigrafia foi fundada, sem comprovação experimental, os estratos superpostos um sobre o outro, e numa escala maior, as fácies superpostas, foram considerados como camadas sucessivas de sedimentos depositados isocronicamente. Isso quer dizer que a camada inferior foi formada primeiro, a que se sobrepõe a ela foi formada em seguida, e assim por diante.
Os Princípios da Estratigrafia derivaram da aceitação dessa crença de que os estratos nas fácies são camadas sucessivas. O termo “Princípio”, como usado na Estratigrafia, é definido no “Oxford Dictionary” como “uma lei geral e inclusiva exemplificada em numerosos casos”. Foi em 1669, que Nicolau Steno, naturalista dinamarquês que viveu na Toscana, definiu os Princípios da Estratigrafia, em seu livro “Pródromos”.
Esses Princípios incluíram o Princípio da Superposição, pelo qual, numa seqüência de estratos, qualquer estrato é mais recente do que a seqüência de estratos sobre os quais ele fica, e mais velho que os estratos que ficam acima dele. Na época em que qualquer estrato estava sendo formado, toda a matéria existente acima dele era fluida, e portanto, nessa época não existiam estratos acima dele (Steno, 1669).
O Princípio da Horizontalidade Inicial declara que os estratos são depositados horizontalmente, e então deformados em várias atitudes. Estratos hoje perpendiculares ou inclinados relativamente ao horizonte, inicialmente eram paralelos ao horizonte (Steno, 1669).
O Princípio da Continuidade dos Estratos afirma que se pode supor que os estratos no passado continuavam lateralmente para bem além de onde hoje eles terminam. Todos os estratos foram formados por acréscimos contínuos de depósitos sobre a superfície da Terra, a menos que outros corpos sólidos interferissem na sua formação (Steno, 1669).
Estes três Princípios da Estratigrafia forneceram a base sobre a qual os geólogos estabeleceram a “Coluna Geológica” no final do Século XVIII e início do XIX. Eles supuseram que os sedimentos foram depositados horizontalmente em todo o mundo, e que a taxa de deposição foi a mesma em todos os locais, para cada camada. Além disso, desde os dias dos geólogos James Hutton e Charles Lyell, foi suposto que as taxas de erosão e de sedimentação no passado eram as mesmas observadas hoje. Conseqüentemente, a idade de um estrato era calculada a partir das atuais taxas de deposição de sedimentos, e também da profundidade do estrato na hipotética coluna das rochas sedimentares. Hipotética, sim, porque todos os estágios que supostamente constituem a coluna, nunca foram encontrados juntos em qualquer formação geológica.
O método usado para a datação de rochas sedimentares desde o Período Cambriano até hoje baseou-se, portanto, no Princípio da Superposição. Aplicando-se o Princípio da Continuidade, a mesma idade poderia ser atribuída às demais rochas pertencentes às formações que supostamente pertenceriam à mesma fácies, seja na América do Sul, na África do Sul, ou na Austrália. Posteriormente, o conteúdo fóssil das formações sedimentares, em diferentes locais, passou a ser usado para mostrar correspondência de idades entre os fósseis de um local e os de outro local.
Isso deu origem ao Quarto Princípio da Estratigrafia – o Princípio da Identidade Paleontológica. Esse Princípio afirma que dois estratos com o mesmo conteúdo paleontológico apresentam a mesma idade. Isso significa que, se os fósseis de uma determinada camada, ou de uma fácies, são iguais em camadas correspondentes, então elas podem ser consideradas como sendo da mesma idade.
(Leia todo o artigo com Figuras na Revista Criacionista)