Introdução
O estudo da evolução humana tem sido impactado por dois fatores: o aumento significativo na disponibilidade de dados genéticos e novos modelos de inferência filogenética. A variação genética observada entre populações vivas se tornou uma ferramenta para os pesquisadores estudarem diversos aspectos da evolução humana e usá-los para estabelecer relações entre as espécies (vivas e extintas). A inferência filogenética se tornou uma disciplina central na Biologia Evolutiva, substituindo abordagens que se concentram em semelhanças e diferenças. O objetivo dos estudos filogenéticos é reconstruir a correta genealogia entre organismos e estimar o tempo transcorrido desde que eles divergiram de um ancestral comum. As relações evolutivas entre grupos de organismos são ilustradas em gráficos chamados de árvores filogenéticas. Os mais variados periódicos científicos, desde aqueles especializados em biologia molecular até os de antropologia, estão repletos de árvores evolutivas. O objetivo deste artigo, portanto, é analisar a construção de árvores evolutivas humanas baseadas nas evidências genéticas mais recentes e tentar harmonizar estas evidências com o relato bíblico da origem humana.
A origem do Homo sapiens sapiens
Atualmente, existem duas grandes correntes explicativas da evolução humana: o modelo da “monogênese africana (“Out of Africa”, ou seja, fora da África), segundo o qual o H. sapiens evoluiu a partir do H. erectus, na África, espalhando-se depois pelo planeta, e o modelo “multirregional”, segundo o qual a pressão evolutiva (em termos de selecção natural) fez surgir tipos avançados similares ao H. sapiens a partir do H. erectus, em diferentes partes do mundo, mais ou menos simultaneamente.
O apoio dos dados genéticos contribuiu de maneira fundamental para tornar o modelo da monogênese africana a visão hegemônica no meio antropológico. De um modo geral, o modelo da monogênese africana e a descoberta de uma “Eva mitocondrial” africana, de 200.000 anos de idade, eram apresentados como idéias sinônimas (Meyer, 1996).
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Harmonizando os dados com o relato bíblico
Até que ponto é possível harmonizar os dados obtidos pelos cientistas com o relato bíblico da origem do homem? Para o autor deste artigo, os resultados com o mtDNA são a maior evidência de que todas populações atuais originaram-se de uma única população. Esta população, a Bíblia nos conta, era composta por oito pessoas – Noé, sua esposa, seus três filhos e suas três noras. Seus ancestrais podem ser traçados até o aparecimento do primeiro casal, Adão e Eva. Entretanto, não podemos concordar quanto ao ponto de origem geográfica como sendo o continente africano, nem o tempo decorrido para o seu surgimento há aproximadamente 200 mil anos.
Árvores como a de Cann e colaboradores (1987) apresentam uma falha metodológica em sua implementação. Eles deixaram de considerar uma reconstrução alternativa para os estados ancestrais, que é igualmente parcimoniosa à origem africana. Essa alternativa é uma origem asiática, seguida por duas migrações a partir daquele continente: (a) uma para a África e (b) outra para os demais continentes (Maddison, 1991). Acredito que esta reconstrução seja mais fiel ao relato bíblico da dispersão dos povos após o dilúvio e a construção da Torre de Babel (Gênesis 6-11).
Finalmente, alguns estudos revelaram uma taxa de mutação muito maior em moléculas do mtDNA humano do que a taxa normalmente aceita. Os evolucionistas assumem que o relógio molecular do mtDNA apresenta uma taxa constante de uma mutação a cada 6000 a 12000 anos, algo em torno de 600 gerações (Gibbons, 1998). Entretanto, estudos revelaram uma taxa mutacional cerca de 20 vezes mais rápida, ou seja, uma mutação a cada 25 a 40 gerações (Howell, 1996; Pearsons et al., 1997). Estes dados, suscitaram sérios questionamentos aos métodos utilizados para datar os eventos evolutivos (Paabo, 1996; Gibbons, 1998), enquanto para os criacionistas, soaram como boas novas por estar em harmonia com o modelo de uma curta cronologia para a nossa origem (Wieland, 1998).