A Rede NET de televisão por assinatura exibiu no dia 18 de fevereiro passado, a partir das 16 horas, com duração aproximada de duas horas, no Canal TC-5, a primeira versão do filme “Herdeiros do Vento” (“Inherit the Wind”), versando sobre o famoso julgamento do Professor John Scopes, realizado em 1925 em Dayton, no Estado do Tennessee, nos Estados Unidos da América do Norte. No dia 25 de abril, a partir das 13 horas, demonstrando a atualidade do assunto, foi exibida versão mais moderna do filme, em tecnicolor, no Canal MGM, com duração aproximada de 1 hora e 30 minutos.
O título do filme foi retirado de um versículo citado no decorrer das cenas, referindo-se ao texto bíblico que se encontra no livro de Provérbios, capítulo 11, versículo 29: “O que perturba a sua casa herda o vento…” , usado no contexto da controvérsia entre o Evolucionismo e o Criacionismo.
O chamado “Processo Scopes” marcou época, pelo fato de estar então sendo acionado um professor que supostamente havia defendido o Evolucionismo em suas aulas, o que era proibido pela legislação estadual em vigor. E hoje em dia volta o mesmo assunto à baila, a propósito de recentes atos legislativos ocorridos em alguns Estados americanos, conforme amplamente divulgado pela imprensa.
Em seu número 18:3, de junho – agosto de 1996, a revista criacionista australiana “Creation Ex-Nihilo” apresentou algumas considerações de interesse sobre o filme em questão.
Em seu número 19:1, de dezembro de 1996 – fevereiro de 1997, a mesma revista voltou a apresentar uma análise histórica dos fatos, e uma apreciação crítica do filme, concluindo não haver concordância entre ambos, e mostrando que o filme deformou os fatos propositadamente, partindo de uma posição a priori, preconceituosa e inexata, resumida na conclusão do artigo:
“Existem consideráveis evidências de que o filme e seu roteiro são não somente inexatos, como também altamente preconceituosos em suas intenções. As inexatidões históricas são sistemáticas, e de um tipo que apresenta preconceitos consistentes, de escandalosas proporções, contra as pessoas que crêem nos milagres relatados na Bíblia, e particularmente no relato da Criação.
Por outro lado, os que não crêem nos milagres relatados na Bíblia são apresentados como pessoas eminentemente racionais, que sofrem insultos e ameaças de ignorantes fundamentalistas cristãos.
As evidências sugerem que as inexatidões do filme e seu roteiro são substantivas, intencionais e sistemáticas. Os cristãos, e particularmente William Jennings Bryan, são consistentemente depreciados ao longo de todo o filme, enquanto os céticos e agnósticos são apresentados como inteligentes, gentís, e até mesmo heróicos.
Não posso deixar de concluir que os autores de “Herdeiros do Vento” jamais quiseram escrever um relato histórico acurado do “Processo Scopes”, e que nem tentaram caracterizar de maneira séria, precisa e honesta os principais protagonistas e suas concepções.”
De qualquer forma, não deixou de ser interessante assistir o filme, com espírito crítico e alertado para a sua preconceituosidade, entendendo que a deformação dos fatos faz parte da tática evolucionista de denegrir o Criacionismo e os criacionistas, apresentando-os com uma imagem inteiramente negativa.
Dentre os aspectos que podem ser ressaltados nos filmes, destaca-se a inquirição realizada praticamente no final da sessão de julgamento no tribunal, na qual o advogado da defesa dirige ao promotor, curiosamente posto como testemunha da defesa, perguntas específicas a respeito de declarações bíblicas e suas possíveis interpretações. Aparentemente, do diálogo procedido entre ambos pode-se tirar o maior número de conclusões quanto a como se pode distorcer o relato bíblico, e como se torna difícil a conciliação de pontos de vista extremamente diferentes entre si, tornando praticamente inviável um diálogo profícuo entre os defensores dos respectivos pontos de vista
Na realidade, mutatis mutandis, muitos criacionistas são submetidos ao mesmo clima inquisitorial, em numerosas ocasiões, especialmente em ambientes acadêmicos, onde hoje, após mais de setenta anos decorridos desde o Processo Scopes, o Evolucionismo tornou-se a verdadeira “vaca sagrada” da ciência moderna.