Este artigo contém material de um trabalho apresentado na 3ª Conferência Nacional Americana sobre Criação e Ciência, em Minneapolis, Minnesota, U.S.A., em agosto de 1976.
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Várias tentativas de modelos têm sido feitas para explicar a existência de uma camada atmosférica de água ou vapor, bem como de uma possível fonte extra-terrestre de água ou gelo. Esses modelos têm tido quatro preocupações no quadro criacionista global relativo às origens, a saber, a explicação de um clima semi-tropical ante-diluviano, a disponibilidade de substancial quantidade de água para o dilúvio, a explicação da ação glacial e do congelamento catastrófico posterior ao dilúvio, e a possibilidade de redução da taxa de produção de Carbono-14 anteriormente ao dilúvio. O ponto de vista usual tem sido fornecer explicações que envolvem somente forças naturais, sem a miraculosa intervenção divina. A análise crítica desses modelos indica que é impossível o fornecimento de uma parte substancial das águas do dilúvio, ou de gelo, tanto de uma camada atmosférica quanto de fontes extra-terrestres, a não ser com a miraculosa intervenção divina especial. Todos os modelos falham por não preencher as exigências das leis da Física ou da Fisiologia. São oferecidas as linhas gerais preliminares para o estabelecimento de modelos quantitativos de uma camada atmosférica limitada de vapor d’água.IntroduçãoOs criacionistas freqüentemente deploram, e com razão, especulações temerárias muitas vezes praticadas pelos evolucionistas. Exemplos clássicos de tais especulações encontram-se em “A Origem das Espécies” onde Darwin, para usar as palavras de W. R. Thompson, “engendrou aquelas frágeis torres de hipóteses baseadas em hipóteses, onde os fatos e a ficção entremeiam-se em uma confusão inextricável” (1). Thompson continuou sugerindo que “essas construções correspondem a um apetite natural”, comum ao homem, e em particular aos evolucionistas.
Entretanto, não parece que os criacionistas também têm evidenciado uma tendência para a especulação excessiva? A literatura criacionista está repleta de especulações, teorias sem propósito, e modelos extremados. Uma característica comum de muitas dessas especulações de criacionistas é o esforço feito para explicar algum aspecto do relato da criação ou do dilúvio em termos “naturalísticos” que não envolvem nenhuma intervenção divina direta. Os criacionistas, às vezes, têm sido quase tão engenhosos quanto os evolucionistas para divisar explicações que excluem da pré-história, tanto quanto possível, o milagre divino. Uma área importante de preocupação especulativa dos criacionistas tem sido a dos modelos de camadas atmosféricas, e de fontes extra-terrestres para as águas do dilúvio. Um breve catálogo, provavelmente incompleto, de especulações relativas a camadas atmosféricas, ou a fontes extra-terrestres de água ou gelo na época do dilúvio, inclui o seguinte:
Todas essas idéias foram apresentadas no passado como modelos científicos que supostamente poderiam explicar a fonte das águas do dilúvio, o clima ante-diluviano, ou os efeitos pós-diluvianos de congelamento rápido e glaciação, mediante causas naturais e não sobrenaturais. Entretanto, todas elas entram em conflito com limitações provenientes de leis físicas ou fisiológicas, bem estabelecidas. Todas elas são impossíveis sem a intervenção divina especial que se sobreponha às leis da Física, e algumas delas, mesmo com a intervenção miraculosa, exigiriam tal reconstrução drástica do ambiente terrestre, que se tornam insustentáveis como modelos para a Terra ante-diluviana. Propõe-se examinar essas idéias com relação às falhas mais óbvias, algumas das quais já foram, sem dúvida, reconhecidas por outros estudiosos do assunto. |
Exame crítico da camada atmosférica e outros modelos
1 – Uma camada de vapor d’água contendo parte substancial das águas do dilúvio A título de argumentação, suponhamos que a camada de vapor contivesse o equivalente da ordem de 300 metros de água líqüida. Se nuvens estivessem então presentes, poderiam corresponder somente a uma pequena fração da água total, pois nuvens contendo grandes quantidades de água (isto é, alguns centímetros) somente podem continuar suspensas na atmosfera pelo efeito de violentas correntes de convecção térmica. Portanto, o modelo é o de uma Terra circundada por um envoltório de vapor d’água transparente, que ao se condensar produziria uma camada de água líquida de 300 metros, para contribuir com uma porção apreciável das águas do dilúvio bíblico. Numerosos problemas surgem neste modelo de camada atmosférica.
Pode-se concluir, de todas as considerações anteriores, que um modelo de camada atmosférica de vapor que postule suficiente quantidade de vapor d’água para alimentar as águas do dilúvio, é inaceitável a menos que também se postule a intervenção divina especial para manter essa camada atmosférica anteriormente ao dilúvio, e para destruí-la no tempo oportuno, precipitando-a sobre a Terra sob a forma de água líquida. 2 – Uma película esférica, rígida, de gelo circundando a Terra, mantida por resistência estrutural ou por força centrifuga, entrando em colapso para ocasionar o dilúvio e a glaciação Alguns têm suposto que tal película poderia sustentar-se pela sua resistência estrutural. Entretanto, o cálculo da força de compressão sobre essa película mostra ser também impossível esse modelo. Sendo M a massa da Terra, G a constante de gravitação universal, ρ a densidade do gelo, e r o raio da película, a tensão de compressão na película será de σ = M.G.ρ / 2.r Considerando o raio da película igual a 6693 quilômetros (isto é, 322 quilômetros acima da superfície da Terra), então ρ = 2,74.109 kgf/m2. Porém, a tensão de ruptura à compressão do granito, bastante superior à do gelo, é somente de 2,39.107 kgf/m2. A película de gelo romperia instantaneamente, jamais podendo ser mantida pela própria resistência estrutural. Além disso, o problema da absorção da luz permaneceria idêntico, ou maior do que no caso considerado anteriormente.Outros têm considerado que uma película de gelo em rotação poderia ser mantida pela força centrífuga contrabalançando a força da gravidade. Entretanto, basta um conhecimento rudimentar de Física para mostrar que a força centrífuga seria dirigida perpendicularmente ao eixo de rotação da película, de maneira que somente no equador haveria sua ação oposta à da gravidade, e ainda assim a tensão de compressão no equador seria idêntica à da película estacionária. Outro problema invalida a idéia de uma película em rotação. De fato, tal película conteria elevada energia cinética, que em média seria dada, por unidade de massa, pela expressão: se a rotação for exatamente suficiente para a força centrífuga contrabalançar a força da gravidade no equador da película esférica. Consideradas as mesmas características da película supostas anteriormente, ter-se-ia ec = 4740 cal/g. Entretanto, para converter um grama de gelo a 0 °K (isto é, 273 °C abaixo de zero) em vapor a 100 °C, são necessárias somente 860 calorias. Portanto, se tal película em rotação se rompesse sobre a Terra, não produziria nem um dilúvio, nem um efeito de congelamento, pois, contendo cerca de cinco vezes a energia necessária para vaporizar o gelo, envolveria a Terra em uma nuvem de vapor d’água quente. 3 – Água ou gelo em órbita qualquer O resultado da transferência para a Terra seria idêntico ao do caso da película de gelo em rotação – um banho de vapor superaquecido, e não dilúvio ou congelamento. 4 – Vapor d’água, água, ou gelo proveniente do espaço exterior Um modelo amplamente discutido apresenta um “visitante” que se aproxima da Terra proveniente do espaço exterior, trazendo consigo um satélite de gelo. Supostamente o satélite colide com a Terra produzindo o dilúvio, congelamento, e efeitos glaciais. Considere-se o modelo seguinte, algo semelhante ao proposto por Patten na Referência 5. Suponha-se que a massa do visitante fosse um décimo da Terra, que sua distância no apogeu fosse 16.000 quilômetros, que sua órbita em torno da Terra fosse parabólica, e que o raio da órbita do satélite visitante fosse de 16.000 quilômetros. Obtêm-se então os seguintes dados: velocidade do visitante no apogeu, relativa à Terra, igual a 7,0.105 cm/s; velocidade do satélite em sua órbita, relativamente ao visitante, igual a 1,6.105 cm/s. Sem fazer um estudo computacional do problema dos três corpos, o que estaria além das possibilidades do autor, parece fora de dúvida que o satélite não poderia possivelmente atingir a superfície da Terra com uma velocidade relativa menor do que (7,0-1,6).105 = 5,4.105 cm/s. Certamente a velocidade seria maior, porém a anterior corresponde à energia cinética de 3500 calorias/grama, suficiente para vaporizar o gelo a 0° K mais de quatro vezes. Tem também sido proposto que o gelo do espaço exterior estivesse carregado eletricamente, de tal modo que pudesse interagir com o campo magnético terrestre. Prótons, elétrons e átomos ionizados provenientes do espaço realmente assim interagem e são fortemente defletidos, porém sua relação carga/massa é milhões de vezes maior do que poderia possivelmente ser o caso para qualquer cristal de gelo carregado. Assim, qualquer deflexão seria pequena, e a energia cinética não seria afetada de maneira alguma. A carga elétrica nos cristais de gelo não poderia evitar uma catástrofe térmica resultante da sua colisão com a Terra. Os modelos não sobrenaturais falham Esse exame crítico indica que estão fadados ao malogro todos os modelos que supõem a provisão de quantidades substanciais de água ou gelo mediante uma camada atmosférica de vapor d’água, gelo ou água em órbita, película de gelo, ou gelo ou vapor d’água do espaço exterior, estritamente em acordo com a lei natural e sem a intervenção sobrenatural na ordem natural. Eles não podem se ajustar às leis estabelecidas da Física, ou com as exigências fisiológicas para a existência da vida. Houve numerosos aspectos sobrenaturais no dilúvio, notadamente o anúncio e o propósito divino, os planos divinamente dados para a arca, a perfeita sincronização e coordenação dos vários acontecimentos geológicos e atmosféricos, a voluntária reunião dos animais, a sua manutenção por um ano na arca, e a preservação da arca e oito almas durante um ano de violência global não igualada na história do mundo desde a criação. Por que, então, se sentiriam frustrados os criacionistas se não puderam divisar um mecanismo natural detalhado para outros aspectos daquele grande cataclismo? Deus não está sujeito a limites de necessidades ou circunstâncias. Não há necessidade de especulação naturalística na tentativa de explicar esses acontecimentos, quando cada especulação pode ser negada, como mostrado. Diretrizes sugeridas para os modelos de camadas atmosféricas As considerações anteriores de maneira alguma excluem um regime atmosférico ante-diluviano muito diferente das condições atuais, um regime que poderia ter sido mantido por meios naturais ou sobrenaturais. A atmosfera ante-diluviana poderia ter, e na opinião do autor provavelmente teve mesmo, uma camada de vapor d’água que produziria um poderoso “efeito de estufa” no clima global. A história dos modelos de camadas atmosféricas tem sido até agora marcada por discussões altamente especulativas, com pequeno esforço para a modelagem quantitativa. Talvez possam agora ser feitos esforços no sentido dos modelos quantitativos, em face de já se ter alguma idéia da limitação que deve ser feita quanto à quantidade total de vapor d’água na atmosfera. Considere-se a seguir um modelo bastante simples. O conteúdo total de água na atmosfera atual é igual a cerca de somente 2,5 cm de água líquida (13). Se fosse aumentado para não mais do que 15 cm, por exemplo, o efeito sobre a configuração global do clima certamente seria radical. Mesmo na atual atmosfera o vapor d’água e as nuvens são responsáveis pela maior parte da absorção de energia pela atmosfera. O acréscimo de 12,5 cm de água na atmosfera resultaria somente em um aumento desprezível na pressão no nível da superfície. Para um modelo inicial grandemente simplificado, então, suponhamos que a atmosfera contenha 15 cm de água e que o ar seco tenha, no nível do mar, 21% de Oxigênio e 79% de Nitrogênio. Suponha-se ainda que a temperatura uniforme seja de 27 °C, que existe equilíbrio termodinâmico, e que todos os gases obedeçam à lei dos gases perfeitos (Os 15 cm de água correspondem a uma pressão parcial de vapor d’água de 11,2 mm Hg, no nível do mar). Se a pressão total no nível do mar é de 760 mm Hg, as pressões parciais do Oxigênio e do Nitrogênio serão de 157 mm Hg e 591 mm Hg, respectivamente. Com uma pressão parcial de vapor d’água de 11,2 mm Hg, como a pressão de vapor d’água saturado a 27 °C e de 26,74 mm Hg, resulta no nível do mar a umidade relativa de 42%. Supondo que todos os gases obedeçam à lei dos gases perfeitos, que a aceleração da gravidade seja uniforme, e que exista equilíbrio termodinâmico, a densidade parcial de cada gás constituinte varia exponencialmente em função inversa da altitude (Ver Referência 11). Nas regiões superiores da atmosfera, a quantidade relativa dos gases mais leves será maior do que os valores atuais no nível do mar. Assim, neste modelo o conteúdo de vapor d’água no nível do mar é de 9,4.10-3 gramas por grama de ar seco. Porém, na altitude de 30 km o conteúdo de vapor d’água é aumentado para 33,6.10-3 gramas por grama. Na atmosfera atual o conteúdo de vapor d’água na estratosfera é muito mais baixo, cerca de 2.10-6 gramas por grama(14). Neste modelo, portanto, o conteúdo de vapor d’água na atmosfera superior é aumentado por um fator de cerca de 17.000. Com este modelo extremamente simplificado como ponto de partida, podem ser feitas estimativas das características de absorção e de radiação de energia, da atmosfera, podendo-se tirar algumas conclusões preliminares sobre como teria o modelo dinâmico de diferir do modelo inicial de equilíbrio. Deveria então tornar-se evidente se tal modelo tem ou não o potencial para produzir o tipo de regime climático que os criacionistas têm postulado a partir do registro bíblico da era antediluviana, e a partir dos dados da Paleontologia. Desenvolver este assunto aqui seria prolongar demasiado, pelo que o assunto será abordado em outro artigo. Pode ser observado, de passagem, que o grau de aumento postulado anteriormente para o vapor d’água da atmosfera superior, não alteraria substancialmente a taxa de produção de Carbono-14 pelos nêutrons gerados pelos raios cósmicos. Teria de haver um aumento adicional da ordem de 10 a 100, antes que ocorresse um efeito em grande escala sobre a produção de Carbono-14, com os efeitos correspondentemente grandes sobre as estimativas de idades Carbono. O estabelecimento de modelos quantitativos para a atmosfera é uma tarefa sumamente complexa, que este autor não se julga qualificado a empreender. As estimativas feitas com régua de cálculo neste artigo são apresentadas somente como abordagem preliminar do problema, à luz da limitação grosseira que foi estabelecida para o conteúdo total de água. Certamente em um modelo detalhado deverão ser levados em conta outros constituintes atmosféricos, tais como o gás carbônico e o ozônio, juntamente com o vapor d’água, nos cálculos relativos à radiação e à absorção. Pareceria que o problema mais difícil no estabelecimento de modelos para o tipo de atmosfera geralmente suposto pelos criacionistas para o mundo ante-diluviano, tem sido o da manutenção da estabilidade em um planeta em rotação recebendo radiação do Sol. Sem dúvida muitas outras dificuldades surgem ao se estabelecerem modelos. Entretanto, se os criacionistas continuarem a considerar os efeitos de uma camada atmosférica antediluviana de vapor d’água, é tempo de adequar os modelos às exigências das leis físicas, e continuar a desenvolver os detalhes quantitativos.. Água das janelas dos céus Cabe uma observação final a respeito da fonte das águas do dilúvio. A linguagem das Escrituras parece sugerir provisão sobrenatural. Por exemplo, Stanley Udd apresentou evidências exegéticas e gramaticais para o ponto de vista de que as “águas acima do firmamento” citadas em Gênesis 1:7 eram água líquida (15). Se esse for o caso, essas águas eram sustentadas de alguma forma no espaço mediante um “fiat” sobrenatural, e poderiam ter sido a fonte das águas sobrenaturalmente precipitadas através das “janelas dos céus”, como registrado em Gênesis 7:11. Agradecimentos O autor é sumamente grato ao Editor, Harold Armstrong, pelo seu auxilio na supervisão de vários tópicos de Física, no manuscrito. Referências (1) Thompson, W. R. 1956. “Introduction”, The origin of species by Charles Darwin, E. P. Dutton and Co., New York. (11) Para uma atmosfera contendo só um constituinte gasoso, de acordo com a Lei dos Gases Perfeitos, em um campo gravitacional uniforme, e à temperatura constante, a densidade em função da altitude é expressa por: ρ(0) = MP(0)/R.T e a = Mg / R.T sendo M = massa molecular (12) A energia eletrostática de uma carga Q colocada sobre uma esfera de raio r é Ee = Q2 / r. Para concentrar uma carga Q = 2,5.1036 statcoulombs sobre a superfície de uma esfera de raio r = 8.000 km seria necessária a energia de 7,8.1063 ergs. A energia gravitacional inerente à galáxia é da ordem de Eg = GM2 / R, (13) McGraw Hill Encyclopedia of Science and Technology, 1971, Vol. 6, p. 630. |
Artigo publicado naFolha Criacionista 15 |