Pode ser útil que alguém que tenha vivido até o presente neste século vinte, recorde suas próprias experiências e observações, juntamente com algumas notáveis descobertas realizadas no decurso de sua vida.
No início do século vinte, o autor deste artigo era um jovem estudante. Nos Estados Unidos a evolução era assunto para professores universitários e teólogos, e poucas pessoas mais. Era ela de grande utilidade para os “infiéis”, como os ateus eram então designados, os quais faziam grande estardalhaço. A doutrina, na época com cerca de quarenta anos, contados a partir da publicação de “A Origem das Espécies” de Darwin, não tinha ainda caído no domínio do homem comum.
Os livros escolares não discutiam a origem da Terra, ou a origem dos seres viventes. Os autores não mencionavam a criação divina nem as teorias materialistas das origens, mas ignoravam a ambas, assumindo uma posição agnóstica. Os textos comuns nos tempos em que meu pai havia estudado não mais eram adotados em Indiana, tendo sido substituídos por outros bastante ecléticos que incluíam histórias bíblicas, juntamente com seleções literárias e históricas. Os livros de Geografia e de História calavam-se acerca das origens.
Olhando para trás agora, convenço-me de que as “evidências” das origens ao acaso, bem como do desenvolvimento mecanicista, eram então mais fortes do que hoje, porque não haviam ainda aparecido às dificuldades que hoje existem para a sua explicação.
Idéias mantidas
Volvendo agora às crenças dos cientistas por volta da passagem do século, observam-se certas crenças do século dezenove ainda em voga. Dentre elas destacam-se a herança dos caracteres adquiridos e a recapitulação nos embriões.
Reconhecia-se então que os caracteres dos seres vivos eram adquiridos sob ação do ambiente, ou pelo uso ou desuso; entretanto já na próxima geração isso não era mais aceito (1). Isso se deu inclusive na Rússia, onde, há poucas décadas, um grupo com apoio político sustentou a teoria.
Quanto aos embriões passando pelos estágios dos seus supostos ancestrais, a idéia foi afastada tanto pelos criacionistas como pelos evolucionistas (2). O abandono da herança dos caracteres adquiridos, e da recapitulação, tornou a evolução muito mais difícil de ser crida.
Culto dos heróis
A evolução, doutrina de que a vida surgiu por acaso, tornando-se mais complexa pela ação de forças materiais, não é ciência, mas sim um tipo de filosofia natural. A ciência consiste de fatos, mas a filosofia natural persiste apesar dos fatos, se satisfizer os desejos populares acerca da natureza do mundo. O homem que se opôs aos sábios e teólogos, e alterou o ponto de vista da maioria a respeito do universo, aliviando a sua responsabilidade para com Deus, tornou-se, e ainda é, um herói. Esse herói do século dezenove foi Charles Darwin. Ainda no presente os erros de Darwin são esquecidos, e as suas escassas idéias sobre Genética são elogiadas.
As idéias de Charles Darwin eram dominantes na última metade do século dezenove. O resultado foi que a influência do verdadeiro cientista, Gregor Mendel, foi retardada até o século vinte, 35 anos após ter completado suas pesquisas básicas.
Quando Mendel apresentou sua contribuição sobre a herança das ervilhas perante a Sociedade de Ciências Naturais de Brunn, em 1865, registrou-se nos anais que não houve discussão. Registrou-se também que, à tarde, Alexander Makowsky mencionou “com o máximo entusiasmo” um livro escrito por um inglês chamado Darwin, seis anos antes, e intitulado “A Origem das Espécies” (3). Os cientistas discutiram o livro aquela tarde, e toda a Europa fez o mesmo no restante do século. Entretanto, desde 1900 a influência de Mendel tornou-se enorme.
É verdade que o artigo de Mendel foi publicado em um obscuro periódico, e que pouco tempo lhe restava para pesquisa no mosteiro do qual foi eleito administrador e onde vivia. Mas a real frustração foi terem os sábios aceito a hipótese de que a vida surgiu e se desenvolveu por meios naturais, e estarem procurando os possíveis métodos envolvidos.
Genética versus evolução
A primeira década do século vinte foi um tempo de grande progresso em genética e citologia. Grande número de cientistas pode perceber claramente que a sua ciência apontava para o oposto da evolução embora a maioria deles hesitasse em romper abertamente com os demais. Alfred Russel Wallace, íntimo amigo e colaborador de Darwin, disse
“A respeito da relação geral entre o Mendelismo e a evolução, cheguei a uma conclusão bastante definida. É que ele é realmente antagônico à evolução” (4).
William Bateson (1861 – 1926) declarou numa reunião da Associação Americana para o Progresso da Ciência em Toronto:
“É impossível para os cientistas concordar por mais tempo com a teoria de Darwin da origem das espécies. Após quarenta anos nenhuma explicação nem evidência alguma foram descobertas para comprovar a sua origem das espécies. … Não mais sentimos, como anteriormente, que o processo de variação, ocorrendo agora contemporaneamente, é o início de um trabalho que necessita meramente do elemento tempo para a sua efetivação; pois mesmo o tempo não pode completar aquilo que ainda não se iniciou” (5).
Não obstante, ao lado dessa declaração franca, Bateson dava razão para se acreditar que ele ainda tinha fé na evolução e que esperava que fosse achada alguma comprovação de sua ocorrência.
Uma grande década
Realmente, a declaração anterior daquele grande e honesto geneticista em 21 de dezembro de 1921, juntamente com outras declarações semelhantes, deu um grande impulso ao movimento criacionista na América. A década de 1920 – 1930 foi uma época de protesto ruidoso e marcante dos cidadãos comuns contra a evolução.
Foi algo semelhante ao atual movimento, embora com diferentes porta-vozes. Os líderes eram na maior parte ministros evangélicos não muito aprofundados em Teologia. Faziam bem em dar crédito completamente à Bíblia, mas ao criticar a evolução desfaziam também da Ciência. Um slogan comum era “É melhor conhecer a Rocha dos Séculos do que os séculos das rochas”. Atualmente os porta-vozes do criacionismo, muitos dos quais são cientistas, dão o devido crédito aos cuidadosos estudos dos cientistas, mas enfatizam a real dissociação entre a Ciência e a evolução, chamando esta última de filosofia natural.
Embora minha memória possa falhar, lembro-me de dois líderes proeminentes daquela década: William Jennings Bryan e George McCready Price. O primeiro era muito culto, embora não no campo da ciência, tendo sido designado por três vezes para a Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrático, e servido como Secretário de Estado do Presidente Woodrow Wilson. Como orador raramente foi igualado.
G. M. Price nasceu no Canadá, era muito instruído em línguas e filosofia, e ensinou em várias faculdades. No decorrer de sua longa vida estudou história da ciência e relatórios de explorações geológicas, escreveu um bom número de livros e contribuiu bastante para o movimento criacionista. Embora acusado de não pertencer a nenhuma sociedade científica, era membro da Associação Americana para o Progresso da Ciência e da Academia de Ciências da Califórnia. Price foi duramente criticado, do mesmo modo que qualquer pessoa que descobrisse defeitos numa “vaca sagrada”.
O protesto da década de 1920 foi dirigido contra os que ensinavam a evolução, sendo que no Tennessee os legisladores promulgaram uma lei contra tais professores nas escolas públicas. Ação semelhante foi movida no Arkansas e no Mississippi.
A ação movida em Dayton, Tennessee, em 1925 para fazer cumprir a lei naquele estado, recebeu grande publicidade e não necessita ser mencionada a não ser para trazer à luz alguns fatos que de outra maneira não seriam conhecidos. Quando W. J. Bryan decidiu ir auxiliar a causa, solicitou a Price que fosse junto, mas este declinou do convite devido a uma viagem à Europa (6). Bryan não tinha defendido nenhuma causa há cerca de 20 anos, e estava com a saúde abalada, como evidenciado pelo fato de ter morrido poucos dias após o julgamento.
Estive na loja em que o professor John T. Scopes foi forçado pelo membro da União das Liberdades Civis, George Rappleyea, a dizer que havia ensinado a teoria da evolução, muito embora não se lembrasse de tê-lo feito(7). Nas minhas três visitas a Dayton verifiquei que os moradores daquela pequena cidade típica ainda crêem que Deus criou o homem à sua própria imagem.
As três leis estaduais mencionadas acima foram revogadas. Um esforço mais moderno é a legislação do Conselho de Educação da Califórnia, que exige que, onde se ensine a evolução, também se apresente a criação como uma teoria alternativa. Cidadãos de outros estados, principalmente do Texas, estão lutando por uma legislação análoga.
Grandes homens ajudam os criacionistas
No decorrer de todo o século XX, os evolucionistas têm declarado que nenhum cientista acredita na criação divina, mas essa acusação não é verdade. Henri Fabre (1825-1915), entomologista francês, falou muito claramente contra a evolução. Era ele muito instruído, mas preferia viver de maneira simples, dedicando-se às suas pesquisas e publicações. Esse interessante escritor destacou a importância do planejamento inteligente nos seres vivos, observando que uma adaptação deveria realizar-se completamente e ser capaz de funcionar bem desde o início, ao invés de realizar-se gradualmente (8).
Outro biologista, bastante notável foi Wilhelm Johannsen, da Dinamarca. (1857-1927). Embora seja difícil de saber quais as suas crenças, as suas descobertas permitiram vislumbrar os limites da seleção. Johannsen descobriu que, como era de esperar, feijões grandes produziam feijões grandes. Porém, aprofundando sua pesquisa, plantando separadamente feijões grandes e pequenos descendentes da mesma planta, não havia diferença significativa no tamanho do produto (9). A seleção, método proposto por Darwin para explicação da suposta alteração evolutiva, não se mostrava eficaz. Essas experiências, feitas em torno de 1909, foram repetidas por outros pesquisadores com outras espécies, levando aos mesmos resultados.
Como eu havia sido levado a crer, pelos meus estudos, que quanto mais intensa a seleção, maior o melhoramento, tais resultados me deixaram bastante surpreso. Johannsen mostrou que a seleção simplesmente classifica os genes, tornando-se ineficaz quando os genes são todos iguais, mesmo que existam diferenças devidas ao ambiente.
James D. Watson e F. H. C. Crick, com o seu trabalho que mostrou a grande complexidade do gene, bem como que a herança a ser transmitida depende de um código, tornaram difícil acreditar na evolução ao acaso (10). Esse código assemelha-se a uma palavra, e a sua formação se dá pela ação de unidades de átomos, da mesma maneira que uma palavra é formada por uma seqüência apropriada de letras. É digno de nota que códigos nunca se formaram sem o auxílio de uma inteligência.
Reconhece-se que a prova ou a rejeição da evolução está a cargo dos geneticistas e geologistas. Os desenvolvimentos na Geologia foram desapontadores para os evolucionistas, no sentido de não terem sido preenchidos os vazios existentes entre as categorias de fósseis. Da mesma maneira que nos seres vivos, não se descobriram formas fósseis vegetais ou animais para preencher os vazios existentes entre as ordens, classes e fila. Igualmente, após muita paciente pesquisa, não foram descobertos fósseis inquestionáveis abaixo das rochas do Cambriano. Esses resultados negativos tornam mais fácil volver ao relato bíblico de uma criação geral no início.
Os criacionistas organizam-se
Observando as discrepâncias entre as pretensões dos evolucionistas e os fatos científicos estabelecidos, os modernos cientistas, bem como não cientistas, criacionistas, juntaram-se para tornar público seus pontos de vista. Atualmente muitas organizações existem, das quais algumas poucas serão mencionadas.
O Movimento de Protesto contra a Evolução (Evolution Protest Movement) fundado na Inglaterra em 1932 foi a primeira organização, e contou com diversos bons cientistas como dirigentes e membros. Um deles foi Douglas Dewar, notável ornitologista que viveu muito tempo na Índia. Essa organização tem permanecido fiel ao seu propósito original.
A Comunhão Científica Americana (American Scientific Affiliation) formou-se em 1941 mediante o convite feito por um cidadão a cinco cientistas para reunirem-se a suas expensas. Esses cinco cientistas constituíram o primeiro Conselho de Diretores, e muitos criacionistas com bagagem científica tornaram-se membros. Após alguns anos a declaração de fé foi tornada mais liberal para atrair mais membros, e a carga contra a evolução foi diminuída. Os assuntos escolhidos para discussão a partir de então constituíram os atuais objetivos da sociedade.
A Liga de Evidência Cristã (Christian Evidence League) de Malverne, Nova York, surgiu em 1946 após a dissolução da Associação Religião e Ciência (Religion and Science Association) devido a desacordo surgido entre os membros quanto à existência de um possível intervalo entre o relato de Gênesis 1:1 e 1:2. A Liga publica “O Criacionista”, que cobre tópicos mais amplos do que meramente os referentes à criação e à evolução.
Após vários anos, o apoio ao criacionismo parecia diminuir. Mais ou menos em 1960 escrevi ao Dr. Walter Lammerts perguntando-lhe se não poderíamos fazer algo para aumentar o volume de contribuições científicas a favor da causa. Respondeu-me então: “Dê-me dez homens de ação e faremos mais do que todos os outros estão fazendo no momento”.
Minha resposta foi que poderíamos achar esses homens; assim, escrevi para oito pessoas e estabelecemos o “grupo dos dez”. Começamos a publicar auxiliando-nos mutuamente, até que o Dr. Lammerts vislumbrou a possibilidade de uma organização de maior porte. Em 1963, em uma convenção conjunta da American Scientific Affiliation e da Evangelical Theological Society (Sociedade Teológica Evangélica) realizada em Wilmore, no Estado de Kentucky, um grupo de pessoas interessadas colaborou na redação preliminar da Declaração de Princípios de uma nova organização, a Sociedade de Pesquisas Criacionistas (Creation Research Society). O crescimento da Sociedade tem sido muito maior do que esperávamos, e até agora não achamos necessário alterar a Declaração de Princípios.
A Associação Bíblia-Ciência (Bible-Science Association), com sede em Caldwell, Estado de Idaho, foi formada em 1963. Essa organização publica um boletim informativo e financia a venda de uma grande variedade de literatura criacionista. Financiou também uma reunião durante quatro dias com a participação de todos os grupos criacionistas dos Estados Unidos, em Milwaukee, Estado de Wisconsin, de 10 a 13 de outubro de 1972, com boa participação, estabelecendo um marco de progresso.
Concluindo, consideremos as características singulares da presente década – 1963 a 1973. A discussão mantida há cem anos entre criação e evolução centralizava-se no desacordo existente entre cientistas e religionistas. Porém, como certo jornalista bem destacou, a discussão atual é entre dois grupos de cientistas. Embora na década de 1920 tivessem sido escassos nas instituições educacionais os porta-vozes do criacionismo, existem hoje centenas deles.
Embora as atuais organizações criacionistas tenham o endosso de muitos teólogos, os criacionistas eminentes de hoje são cientistas. Muitos deles são moços a moças que descobriram por si sós os erros do evolucionismo, e perceberam que a criação divina do Universo é um ponto de vista mais defensável.
Referências
(1) Snyder, L. H., and P. R. David. 1957. Principles of heredity. Health, New York, p. 348.
(2) Moment, G. 1958. General zoology. Houghton Mifflin, Boston, p. 20.
(3) Iltis, Hugo. 1932. Life of Mendel. Norton, N. Y., p 178.
(4) Nelson Byron. 1952. After its kind. Augsburg Publishing House, Minneapolis, MN, p. 106.
(5) Price, G. M. 1971. Report on Evolution. C. Wm. Anderson, Editor. Christian Evidence League, Malverne, N. Y., p. 124.
(6) Afirmação pessoal de Price ao autor.
(7) Scopes, J. T., and J. Presley. 1967. Center of the storm. Holt, Rinehart & Winston, N. Y., pp. 33 e 67. Scopes lecionava álgebra, física e química, e era treinador de futebol. Por um pequeno período foi professor de biologia.
(8) Para um relato mais completo: Tinkle, W. J. Proceedings of Indiana Academy of Science, 65:200 e seguintes.
(9) Sturtevant, A. H. 1965. History of genetics. Harper & Row, N. Y., p. 59.
(10) Smith, A. E. W. 1970. The creation of life. Harold Shaw Publisher, Wheaton, III., pp. 17 e 74 e seguintes.
(Esta Nota foi acrescentada à primeira edição deste número da Folha Criacionista)
Recomendamos aos nossos leitores, a propósito do famoso “Processo Scopes” tratado neste artigo, o vídeo que tem sido exibido nos últimos anos pelas emissoras de TV por assinatura, e que está disponível no acervo da Sociedade Criacionista Brasileira, com dublagem ou legendas em Português, a saber, “Herdeiros do Vento”, reproduzindo (embora de maneira tendenciosa) o julgamento efetuado em 1925, em Dayton, no Tennessee, com William Jennings Bryan como promotor.
Recomendamos também o vídeo-tape e DVD das palestras efetuadas em 2005 pelo Dr. Sérgio Paulo Fernandes no Centro Cultural da SCB, destacando aspectos importantes do “Processo Scopes”, que neste ano está completando seu octogésimo aniversário.
Os pedidos desses documentários podem ser efetuados diretamente à Sociedade Criacionista Brasileira, no seguinte endereço eletrônico: scb@scb.org.br.