Transcreve-se, neste tópico, o interessante comentário feito por Jim Denison sobre o filme “Noah” (“Noé”, em Português), lançado por Holywood no final do mês passado. É ele mais um dos épicos bíblicos produzidos com recursos especiais que tentam dramatizar as cenas fictícias expostas, criando um relato bastante diferente do que se encontra na Bíblia. Certamente sua produção exigiu recursos financeiros à altura de uma mega-produção que visa acima de tudo apenas o lucro fácil proveniente de um investimento que antecipadamente conta com a curiosidade de um enorme público espalhado por todo o mundo. O filme apresenta um Deus irado e vingativo e acontecimentos não relatados no texto bíblico, pelo que, lamentavelmente, o que foi produzido é inteiramente contraproducente do ponto de vista de um evangelismo que pudesse destacar a verdadeira razão pela qual o mundo foi destruído – a rebelião da criatura contra o Criador!
O autor, Pastor Erwin McManus, considera o filme “profundo e instigante”. O ator Gabe Lyons o chama de “um grande, grande filme” e afirma que “ele faz justiça a essa história épica”. Ao mesmo tempo, o filme foi dirigido por um bem conhecido ateu. Ele ajudará ou prejudicará a causa cristã?
Para mim, “Noé” é um dos filmes mais difíceis de ser avaliado, dentre os que tenho assistido. Segue minha apreciação, com um comentário de fundo bíblico sobre a verdadeira vida de Noé e seu significado. Se Você for assistir o filme, seria uma boa ideia rever primeiro o que as Escrituras realmente dizem a respeito desse notável personagem.
Assisti o filme na quinta feira (27/3) à noite, com duas expectativas:
Primeira: Eu esperava que o filme pudesse apresentar alguma licença artística com relação ao relato bíblico, mas que proporcionasse aos cristãos uma grande oportunidade de envolvimento com a cultura da época. As pinturas de Michelangelo na Capela Sistina apresentam licença de interpretação com relação a eventos bíblicos, mas sempre me tocaram profundamente quando pude apreciá-las. A “Última Ceia” de Leonardo da Vinci apresenta um tocante retrato da reunião de Jesus com os apóstolos antes de sua crucifixão, embora o ambiente retratado fosse muito mais renascentista do que seria o da Palestina no primeiro século. Sou favorável às culturas diversificadas, desde que não fique comprometida a verdade expressa nas Escrituras, nem o caráter de Deus. E era isso que eu esperava do filme!
Segunda: Esperava também um filme que eu pudesse recomendar para não-cristãos assistirem e depois poder conversar com eles sobre a graça, que é o tema central da vida e da história bíblica de Noé. Sabia que existiriam algumas inconsistências com relação às Escrituras, mas supunha que elas não criariam barreiras ao Evangelho. Fiquei duplamente surpreso relativamente a minhas expectativas. Minha conclusão: O filme “Noé” é uma obra de ficção! Com exceção do caráter de Noé e do fato de que houve um dilúvio e uma arca, pouca coisa além disso é consistente com o relato bíblico. E o Deus retratado na maior parte do filme está longe de ser o Deus da Bíblia.
Observação: Daqui em diante descreverei o enredo do filme em comparação com o relato da Bíblia.
Na Bíblia, Noé constrói uma arca. No filme, seres fictícios de aparência rochosa, supostamente anjos caídos, efetuam a maior parte do trabalho.
Na Bíblia, “Noé com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos entram na arca” (Gênesis 7:7). No filme, somente Sem tem mulher (mulheres, em certo momento).
Na Bíblia, somente Noé e sua família alojam-se na arca. No filme, um rei fictício designado Tubal-cain (nome citado em Gênesis 4:22, mas descrito somente como “artífice de todo instrumento cortante, de bronze e de ferro”) também se aloja na arca.
Porém, o que mais me desgosta é que o Deus representado na maior parte do filme não é uma personalidade que um não-cristão desejaria conhecer melhor. Ele escolhe poupar apenas Noé e sua família, não dando a ninguém mais a oportunidade de entrar na arca e salvar-se. Entretanto, a Bíblia chama Noé de “pregador da justiça” (2 Pedro 2:5). A maioria dos teólogos crê que Noé despendeu os 100 anos em que esteve construindo a arca para pregar e advertir as pessoas para que se arrependessem antes que fosse tarde demais. No filme, nada existe sobre essa pregação e compaixão.
As Escrituras ensinam que Deus “deseja que todos se salvem” (1 Timóteo 2:4) e que “não deseja que ninguém pereça , mas que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pedro 3:9). Entretanto, no filme, Noé está convencido de que a humanidade deve perecer, para que não mais venha corromper a criação. Até sua própria família deve morrer em seguida, e assim toda a raça humana será extinta.
No filme, surpreendentemente, a mulher de Sem fica grávida. Noé acredita, então, que Deus lhe dá instrução para matar a criança, se for mulher, para não dar continuidade à raça humana. Com o parto, nascem duas meninas gêmeas. Noé levanta o cutelo para mata-las, mas diz a Deus que não consegue, e pensa que desobedeceu às ordens de Deus. Na realidade, nada disso se encontra nas Escrituras – a mulher de Sem não teve gêmeas na arca e em momento algum Noé recebe de Deus ordem para matar as crianças.
Em seguida, em uma cena perto do fim do filme, a nora de Noé sugere que Deus realmente teria deixado a decisão com Noé: ele poderia escolher a vida ou a morte, o bem ou o mal. Ele escolhe o bem e a vida é poupada. Noé passa a crer que é isso mesmo, e Deus envia o arco-iris, com o qual termina o filme.
Em minha opinião, há três maneiras de interpretar o filme “Noé”.
A mais positiva delas é que o filme é uma obra de ficção centrada em um personagem resoluto que procura servir a Deus e depois compreende que o Senhor lhe concedeu o livre arbítrio. Escolhendo o bem e não o mal, ele perpetua tudo o que é bom relativo à raça humana.
A mais negativa é a visão, transmitida na maior parte do filme, de Deus como uma divindade jurídica sem misericórdia, que finalmente ordena a Noé que mate suas netas, como sendo este o Deus revelado na Bíblia. O próprio diretor do filme, ateu, usa o filme para afastar desse Deus as pessoas.
A maneira intermediária é que o filme constitui a quintessência da narrativa pós-moderna. Noé pensa que está ouvindo a ordem direta e inequívoca de Deus para matar suas netas. Então decide que estava enganado. Segue-se que não existe algo como verdade absoluta ou revelação divina objetiva. Assim, cada um de nós deve fazer sua própria escolha neste mundo.
Qual dessas maneiras teria sido a intenção do diretor? Acho que a última, mas cada um deve decidir por si mesmo !
Realmente, não deixa de ser estranho que um ateu seja diretor de um filme épico com conotações bíblicas bastante distorcidas. Tudo indica que se trata de mais um capítulo na guerra que se desenrola contra Deus e contra Sua revelação nas Escrituras !
Hollywood continua liderando a onda avassaladora contra o Cristianismo e seus princípios morais. Consola-nos saber que quando “essas coisas acontecerem”, resta-nos erguer nossas cabeças porque nossa redenção está mais próxima.