O “site” da sociedade criacionista australiana Answers in Genesis publicou em 21 de maio passado uma resposta preliminar às reportagens divulgadas pela imprensa sobre a classificação do chimpanzé no gênero Homo. Dada a atualidade e a repercussão do tema, apresentamos a seguir a tradução da referida resposta, que certamente ajudará nossos leitores a formar uma idéia melhor sobre o que realmente está acontecendo.
Os seres humanos e os chimpanzés deveriam ser reunidos na mesma classificação – o gênero Homo. Pelo menos é o que alegam pesquisadores em recente nota publicada nos Proceedings of the National Academy of Sciences, nos Estados Unidos da América do Norte.
Os pesquisadores fundamentam sua alegação em descobertas suas de que os chimpanzés têm mais em comum com os seres humanos do que com qualquer outro primata – supostamente partilhando 99,4% de seu DNA. A agência de notícias Associated Press (AP) incumbiu-se de elaborar a notícia e divulgá-la.
Esta é uma alegação surpreendente, especialmente porque a tendência entre os cientistas evolucionistas tem sido de diminuir aquele percentual de similaridade, de cerca de 98,5% para 95% (ver por exemplo Greater than 98% Chimp/human DNA similarity? Not any more). Então, por que esse súbito aumento?
De acordo com o relato da AP, a equipe de pesquisadores, dirigida por Morris Goodman, na Faculdade de Medicina da Wayne State University (em Detroit, Michigan), “comparou 97 genes de seres humanos, chimpanzés, gorilas, orangotangos, macacos do Velho Mundo, e camundongos”. Os pesquisadores descobriram que os genes de chimpanzés e bonobos (gênero Pan) têm mais em comum com os genes humanos do que com os de quaisquer outros primatas.
Dificilmente esses dados seriam suficientes para sustentar uma conclusão tão radical. Os pesquisadores compararam 97 genes, porém o genoma humano (que foi mapeado em sua totalidade apenas de uma maneira muito “geral”) tem pelo menos 30.000 genes – portanto eles compararam apenas 0,03% do total! Além disso, os genomas dos primatas não foram nem sequer mapeados de maneira aproximada. Assim, qualquer tentativa de comparar o DNA total atualmente é apenas uma conjectura!.
Como, de fato, os chimpanzés são mais semelhantes aos seres humanos do que outros macacos ou símios, por que isso não se refletiria em alguns de seus genes? Não é surpresa que a anatomia similar refletisse genes similares, porém isso nada tem a ver com a origem das similaridades, seja no nível anatômico, seja no nível genético. A questão da ancestralidade comum versus projeto comum não se decide pelo grau de similaridade.
Mesmo para os evolucionistas, a lógica do raciocínio apresentado levantaria suspeitas. Digamos que a similaridade genética total “real” entre seres humanos e chimpanzés fosse de 96%, apenas para argumentarmos (mesmo 98% corresponderia a milhares de genes diferentes, sendo que apenas uns poucos genes poderiam acarretar uma diferença crucial). Se decidíssemos comparar apenas alguns desses genes, poderíamos obter resultados para o grau de similaridade que variariam de 0% a 100%. A escolha dos genes a serem comparados inevitavelmente tem um caráter extremamente subjetivo.
O argumento dos pesquisadores, neste caso, com relação a como os chimpanzés deveriam ser classificados, centrou-se na proximidade relativa, isto é, no fato de que, nos estudos deles, os chimpanzés mostraram-se mais próximos de nós do que dos outros grandes símios. Entretanto, aqui novamente uma escolha diferente de genes presumivelmente seria facilmente capaz de gerar uma configuração genética diferente, também relativa. E mesmo que isso não acontecesse, supondo que fosse mantida a mesma configuração, qual seria o grande problema? Até mesmo as técnicas rudimentares de hibridização usadas para a avaliação da similaridade hoje em dia (ver o artigo citado sobre Human/chimp DNA similarity) têm levado à conclusão não surpreendente de que, de fato, os chimpanzés são geneticamente mais similares aos seres humanos do que, por exemplo, os gorilas. Assim, se os chimpanzés tivessem uma similaridade genética total maior com os seres humanos do que com os gorilas (o que é muito duvidoso com base em sua morfologia e na anatomia comparada, como mostrado pelas técnicas morfométricas computadorizadas do anatomista evolucionista Charles Oxnard) isso seria algo para apenas tomarmos nota.
O problema é que, embora equívoco, o número de 99,4% chama a atenção. O público em geral é levado a interpretar as reportagens dos meios de comunicação como elas tendo dito que os chimpanzés são “99,4% humanos”. Mesmo antes que esse percentual de similaridade total tivesse sido rebaixado para 95%, a sociedade criacionista australiana “Answers in Genesis” já havia ressaltado a falácia dessa lógica. Isso foi feito citando o professor evolucionista Steven Jones, que afirmara que as bananas compartilham 50% de seus genes com os seres humanos, mas que isso não torna as bananas 50% humanas !
Muito pouco se conhece sobre a maneira pela qual os genes se expressam. Já é suficientemente claro que “nem todos os genes são iguais”. Alguns genes, por exemplo, exercem um profundo controle sobre o desenvolvimento do ser vivo. Já de há muito sabe-se que o mesmo gene em criaturas diferentes pode ter funções diferentes. Essas limitações severas que pesam sobre a “comparação genética” raramente são discutidas quando comparações simplistas como as da notícia em questão são divulgadas.
Usando o mesmo tipo de raciocínio dos pesquisadores considerados, poder-se-ia presumivelmente mostrar que, com base em 97 genes devidamente escolhidos, os seres humanos e as bananas constituem uma mesma espécie, pois seriam 100% idênticos!
A propósito, muitos eminentes evolucionistas não se deixam convencer pelas alegações de seus colegas. Goodman citou uma proposta feita em 1963 de juntar taxonomicamente chimpanzés com gorilas, com base em sua similaridade, porém acredita que as similaridades entre chimpanzés e seres humanos, descobertas por ele, são muito mais convincentes. O antropólogo Richard J. Sherwood, da Universidade de Wisconsin (E.U.A.) observa que Goodman está na realidade procurando qualquer argumento que possa ser trazido a seu favor: “Ir em busca de uma referência histórica como esta, e então usá-la como único critério para sugerir uma enorme mudança na sistemática dos primatas, é difícil de ser levado a sério”.
A proposta de Goodman levará a alguma alteração na taxonomia que envolva primatas e seres humanos? Provavelmente não tão cedo. Goodman parece um pouco preocupado em seus comentários com a imprensa: “Se muitos se interessarem por isso, e julgarem que seja algo para ser considerado, poderá ser realizado um simpósio que aborde essa questão como tema principal e que conclua se a proposta é ou não razoável. Certamente eu a julgo razoável, senão não a teria feito”.
Pedimos ao biologista celular Dr. David DeWitt, que estará falando sobre “Similaridade do DNA entre o Neandertal e o Homem Moderno” na Conferência Creation 2003 a ser realizada em Cincinnati, Ohio, E.U.A., em 22-26 de maio de 2003, para comentar a notícia. Ele nos escreveu:
“A classificação dos organismos baseia-se em similaridades e diferenças. Parece estranho colocar essas três espécies (chimpanzés, bonobos e seres humanos) no mesmo grupo em igualdade de posição. Uma criança pode reconhecer a similaridade entre chimpanzés e bonobos, bem como a diferença entre eles e os seres humanos. A proposta poderá também complicar a já problemática situação dos Neandertais, Australopitecíneos e outros alegados ancestrais humanos. Por exemplo, os cientistas evolucionistas não classificam os Australopitecíneos, como Lucy, no mesmo gênero que os seres humanos. Entretanto, isso é o que Goodman está propondo fazer com os chimpanzés.
É irônico que esse estudo apontando para a similaridade entre chimpanzés e seres humanos apareça nos Proceedings of the National Academy of Science ao lado de um artigo que destaca as diferenças entre os Neandertais e os seres humanos modernos. A conclusão é que quando os cientistas procuram similaridades, eles as encontram, e quando procuram diferenças, também as encontram. Com base no número de diferenças nos pares de bases do DNA, alguns têm excluído os Neandertais como contribuintes para o mtDNA do pool gênico do homem moderno. Entretanto, com base no número de similaridades, os chimpanzés e os bonobos deveriam ser incluídos no gênero Homo, juntamente com os seres humanos. Não se pode esquecer do fato de que esses critérios são arbitrários.
Tipicamente, em estudos deste tipo, os cientistas só examinam substituições no DNA, embora inserções e deleções de nucleotídeos também ocorram As inserções e deleções usualmente são deixadas de lado na análise filogenética porque elas complicam o alinhamento das sequências. Em artigo publicado também nos Proceedings of the National Academy of Science, Britten incluiu esses tipos de diferenças do DNA em sua análise e chegou a um percentual bastante inferior (aproximadamente 95%). Deixar de lado esses tipos de alterações no DNA leva a um grau de similaridade muito mais alto, porque ficam excluídas da análise as alterações mais comuns.”
Para encerrar: Existem e sempre existirão profundas diferenças entre seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, e outras criaturas. Isso não é uma questão de mera afirmação, mas também de observação e senso comum. Nenhum chimpanzé estará lendo ou discutindo essa reportagem, por uma razão especial. Nosso ancestral original, Adão, foi criado singularmente à imagem de Deus, sem nenhum ancestral animal.
Referências
- Schmid, R., “Chimps may have closer links to humans”, <Texto original no site Yahoo News>, 20 May 2003.
- Caramelli et al., “Evidence for a genetic discontinuity between Nerandertals and 24,000-year-old anatomically modern Europeans”, PNAS 100(11)6593-6597.