Finalidades e Objetivos desta Coluna
por Tarcisio da Silva Vieira
A origem da vida é um tema que me fascina desde a época em que aprendi a gostar de Química e das ciências relacionadas, bem antes de aceitar a possibilidade da existência de um Deus Criador. Naquela época, a curiosidade por entender as reações químicas que supostamente teriam conduzido a matéria inanimada ao estágio em que esta viesse a manifestar o fenômeno da vida teve um impacto decisivo em minha formação, de modo que a cada dia eu me encantava mais e mais pela “linguagem das moléculas”.
Como conseqüência daquela curiosidade, o sustento de minha pequena família tem origem no esforço por entender e transmitir um pouco daquilo que tenho aprendido sobre a “linguagem das moléculas”, e a Química tornou-se uma de minhas maiores alegrias, algo com que sonho e acordo todos os dias querendo conhecer um pouco mais. Aquela curiosidade por entender a origem da vida foi, sem dúvida, a força propulsora para que eu não escolhesse como profissão a advocacia, a medicina ou a engenharia, mas sim, a pesquisa científica e o ensino.
Muitos outros exemplos poderiam ser dados mostrando pessoas que escolheram a pesquisa e/ou ensino em detrimento a outras profissões, em função de um contato mais íntimo e profundo com os conceitos científicos apresentados ainda na educação básica.
No entanto, no exercício de minhas atividades diárias tenho me deparado constantemente com situações que, a meu ver, são inconvenientes com relação ao ensino e a divulgação de assuntos e matérias relacionadas com a origem da vida. Um desses inconvenientes esta no fato de que tanto no âmbito educacional (seja na educação básica ou no ensino superior) quanto na mídia, os assuntos relacionados com a origem da vida têm sido abordados de modo superficial. Geralmente não é explorada a diversidade de modelos e propostas existentes, nem se apresenta as vantagens e limitações de um modelo em detrimento de outro, e não se explora este tema como uma ferramenta para o aprendizado do conhecimento químico. Desta forma, ao invés de despertar a curiosidade e contribuir para o desenvolvimento de um pensamento crítico sobre o tema, tais abordagens têm mais caráter de doutrinação do que caráter de formação. O segundo inconveniente reside no modo com que este tema é abordado, geralmente passando-se a imagem de que a origem supostamente espontânea da vida é algo bem estabelecido no âmbito acadêmico, algo inquestionável e que seria de comum acordo à comunidade acadêmica.
Diante destes cenários, esta coluna tem como finalidade apresentar aos leitores algumas das principais propostas para a suposta origem espontânea da vida, de modo a evidenciar a diversidade de idéias existentes por trás deste tema. Como objetivo, pretende-se discutir tais idéias à luz do conhecimento químico, de modo a avaliar tais propostas não como “possibilidades lógicas”, mas, se elas seriam ou não viáveis do ponto de vista químico.
Com esta finalidade e objetivo espera-se contribuir, com o leitor interessado nos temas relacionados com a “Filosofia das Origens”, para o desenvolvimento do pensamento crítico a respeito da origem da vida.