Geólogo criacionista, Nahor Neves de Souza Jr, professor do UNASP, e zoólogo, Dr. Mario Pinna, debatem origem da vida na TV
No último dia 27 de março (2006), a discussão sobre a origem da vida teve mais um capítulo. Desta vez, o embate não ficou restrito a um auditório de universidade, mas ganhou espaço num programa de TV. O geólogo adventista, Nahor de Souza Jr., e o zoólogo evolucionista, Mário de Pinna, debateram sobre ciência e religião, por uma hora e meia no programa Diálogos Impertinentes, do canal fechado STV. A produção, que está no ar há 11 anos, é uma parceria do Sesc com a PUC-SP e o jornal Folha de São Paulo.
Programa realizado na PUC-SP
Entrevistas feitas pelo repórter Wendel Thomaz Lim
Para o Dr. Pinna, que é vice-diretor do Museu de Zoologia da USP, o encontro foi positivo, pois possibilitou que “os dois lados da controvérsia fossem ouvidos e avaliados por uma audiência ampla”. Já o Dr. Nahor, coordenador do curso de Engenharia Civil do Unasp e autor do livro “Uma Breve História da Terra”, acredita que o evento foi “uma das raras oportunidades, em que os reais problemas enfrentados pelo Evolucionismo e a verdadeira definição do modelo criacionista das origens foram apresentados”.
O coordenador do Núcleo Brasileiro Design Inteligente (NBDI), Enézio de Almeida Filho, assistiu o programa do auditório. Ele viu o debate como uma iniciativa surpreendente da grande imprensa secular. Segundo Enézio, a tendenciosidade da mídia na abordagem deste assunto reflete a resistência do meio acadêmico para com as teorias que questionam o evolucionismo. “Questionar Darwin no meio acadêmico, ainda hoje, é risco de perda de promoção ou até mesmo de emprego”, explica o coordenador.
O NBDI reúne os adeptos da teoria do Design Inteligente (DI) no Brasil. Apesar de defender a existência de uma Inteligência superior no planejamento do Universo e da vida, o DI não se propõe a identificar esse mentor da Natureza, nem mesmo de relacioná-lo com o Deus bíblico.
O debate foi mediado pelo filósofo e professor da PUC-SP, Mário Sérgio Cortella e pelo colaborador da Folha, Oscar Pilagallo. Apesar de ter sido exibido ao vivo, dentre algumas semanas, o programa será disponibilizado em DVD. Os que tiverem interesse,podem entrar em contato pelo fone (11) 2123-7173 ou pelo site www.redestv.com.br.
Leia abaixo uma entrevista com os dois debatedores do último programa Diálogos Impertinentes: Dr. Mário de Pinna (evolucionista) e Dr. Nahor Souza Jr. (criacionista).
Os dois lados da moeda
1) Tem crescido o número de cientistas que questionam a Teoria da Evolução. Isso aponta para lacunas ou inconsistência da mesma?
Dr. Mário de Pinna – Não percebo esta tendência. O número de cientistas que se valem do modelo evolutivo é maior que em qualquer outro período da história. Em contrapartida, apenas uma minoria dos cientistas questiona esse paradigma, e geralmente são especialistas em áreas não diretamente ligadas ao estudo de diversidade biológica.
Dr. Nahor Souza Jr. – As comprometedoras inconsistências do Evolucionismo – envolvem aspectos fundamentais do modelo e não apenas questões periféricas como afirmam alguns evolucionistas – têm sido destacadas não somente por cientistas criacionistas, mas também por um expressivo número de respeitados cientistas evolucionistas.
2) O Criacionismo tem evidências científicas?
Dr. Mário de Pinna – Os fatos que o modelo criacionista tenta explicar são explicados melhor por um modelo evolucionista. Acredito que a motivação criacionista seja de cunho religioso, e não científico. Independentemente da delimitação que se faça entre ciência e não-ciência, todos concordam que o recurso a agentes sobrenaturais não é parte da prática científica.
Dr. Nahor Souza Jr. – Criacionismo consiste, por definição, de possíveis associações sustentáveis e coerentes entre o conhecimento científico e o conhecimento bíblico. Ou seja, admite-se a existência de relações funcionais entre as ciências naturais e a religião bíblico-cristã. Essa definição, plenamente compatível com as extraordinárias descobertas científicas feitas por ilustres cientistas criacionistas, juntamente com a própria experiência do entrevistado, nos permite assegurar que o Criacionismo valoriza, na sua totalidade, os dados e evidências levantados pela metodologia científica. Nesta, o empirismo racional deve prevalecer, evitando-se assim o comprometimento com as conjecturas e pressuposições filosóficas (freqüentemente utilizadas pelo Evolucionismo)
3) Os estudiosos criacionistas são pseudocientistas?
Dr. Mário de Pinna – Pseudocientista é um termo pejorativo que eu não aplicaria a alguém que esteja sinceramente interessado em entender as questões do mundo. Alguns criacionistas motivados por agendas políticas, certamente têm se colocado na posição de pseudocientistas, e merecem a designação.
Dr. Nahor Souza Jr. – Evidentemente que não. A própria história da ciência moderna, representada pelos seus melhores expoentes (cientistas criacionistas, como Isaac Newton, Galileu Galilei, Johannes Kepler, Louis Pasteur e muitos outros) demonstra, cabalmente, que o Criacionismo e o verdadeiro empirismo científico andam de mãos dadas. Um pseudocientista jamais poderá desenvolver pesquisas científicas e, muito menos, obter títulos acadêmicos na carreira universitária. O significativo número de cientistas criacionistas titulados – atualmente, desempenhando brilhantemente suas atividades docentes e de pesquisa nas melhores universidades do mundo – demonstra, inequivocamente, a falácia e o preconceito infundado por detrás da infeliz ligação entre criacionismo e pseudociência. Na verdade, a insuficiência epistêmica do Evolucionismo é que tem propiciado, com freqüência, o desenvolvimento de hipóteses pseudocientíficas.
4) A cosmovisão de um cientista influencia a própria pesquisa deste?
Dr. Mário de Pinna – Não necessariamente. Alguns pesquisadores certamente têm visões políticas, religiosas ou ideológicas que deformam seu trabalho científico (ou em outras áreas, como a arte). Outros não. Isso depende das características pessoais e não pode ser generalizado.
Dr. Nahor Souza Jr. – O cientista é, acima de tudo, um ser humano com seus valores, princípios, conceitos e preconceitos, os quais, inevitavelmente, constituirão elementos presentes na sua visão de mundo. Esta mesma cosmovisão (seja evolucionista ou criacionista), por sua vez, certamente interferirá em todos os seus empreendimentos, inclusive em suas atividades acadêmicas.
5) É possível conciliar ciência e religião?
Dr. Mário de Pinna – Em se tratando de evolução biológica, sim, dependendo da religião. Por exemplo, as tradições budistas tendem a ver o ser humano como integrado e parte do restante do mundo natural. Imagino que se a ideia de evolução orgânica houvesse sido proposta na China, a controvérsia inicial na sociedade provavelmente seria pequena ou nenhuma. Já nas tradições judaico-cristã-islâmica a integração é mais difícil, já que nestas correntes nossa espécie é colocada como essencialmente diferente do resto do mundo vivo, uma ideia em desacordo direto com o que sabemos sobre evolução. Ainda assim, na Igreja Católica há a aceitação da evolução do corpo, o que já é um passo importante em direção a integração. A conciliação com a ciência tende a ser mais difícil nas religiões fortemente ancoradas em dogmas, já que uma das características da atividade científica é a não aceitação de dogmas absolutos. As religiões centradas em filosofias de vida gerais ou preceitos morais amplos tendem a ter uma interação menos traumática com as ciências.
Dr. Nahor Souza Jr. – Evidentemente que sim, até pela definição de Criacionismo. As atividades acadêmicas que desenvolvi durante 13 anos em duas grandes universidades públicas (USP e Unesp), e os resultados então obtidos mediante a investigação científica, demonstram claramente as vantagens da cosmovisão criacionista como uma extraordinária aliada na vida de um cientista.